sexta-feira, 28 de agosto de 2009

TER PRESSA


Que pressa que eu tinha
quando comecei
faltava-me o tempo
não dava para descansar
os planos eram muitos
a ambição desmedida
o desejo de fazer tudo
de não deixar nada a meio
roubou-me a juventude
retirou-me a alegria

E muita coisa fiz
até demais
mal tinha acabado uma
já estava metido noutra
não parava
lutava contra os desconsolos
ia à frente dos acontecimentos
não respirnva
os projectos sucediam-se
muitos tinham pernas
outros não

E os anos corriam
outros disseram
que eu não era deste tempo
que andava demasiado à frente
que tinha razão
mas antecipadamente
o que queria dizer que deveria esperar
sentar-me a ver o mundo avançar
e só depois actuar
na hora apropriada

E para quê tanta pressa?
Quem ganhou com isso?
Eu?
Não creio, não dei por isso
não deparei com qualquer vantagem
não beneficiei
só me cansei
e o mundo não deu por nada
nem reparou
tinha mais que fazer
do que perder-se com ninharias
havia outros que interessavam mais
que davam nas vistas
que faziam ruído
esses interessavam

Passados todos estes anos
chegado aqui onde estou
olhando para trás
tenho de conformar-me
que dar razão aos que não deram por mim
que não encontraram motivo
para reparar
no que um qualquer
se teria esforçado por fazer
e que se perdeu
no meio da azáfama
dos milhões de cidadãos
que enchem este mundo

Que me resta?
Aguardar pela partida
e ficar quieto
conformado
não culpando ninguém
e só me culpando a mim
por não ter escolhido outro caminho
que, mesmo sem me satisfazer,
chamasse mais a tenção
e não desafiasse os invejosos

Estarei conformado
por fora
pois, por dentro,
ninguém dá por isso









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