domingo, 16 de agosto de 2009

HOMENAGENS



Se se perguntar a qualquer pessoa se prefere ser homenageado depois de morto ou antes de partir desta vida, naturalmente que a resposta mais esperada será a de que as honrarias devem chegar enquanto por cá andamos e não quando já não podemos assistir e deslumbrarmo-nos com tais manifestações em nosso louvor.
Porém, segundo se toma conhecimento pela leitura dos factos históricos e, ainda no nosso tempo, por termos assistido a tais situações, verifica-se que um grande número de casos ocorreu e ocorre quando os visados não pertencem já ao número dos vivos. Mais recentemente e tratando-se de um português ilustre que bem merece situar-se num ponto bem alto dos valorosos portugueses, temos o exemplo de Fernando Pessoa que, enquanto por cá andou e ia tomar o seu cafezito ao Café da Arcada (agora em vias de desaparecimento devido às obras do Terreiro do Paço) e ganhava a vida como ajudante de guarda-livros num escritório na Baixa lisboeta, nessa altura só uns muito poucos se deram conta de que ali estava um escritor e poeta de grande nomeada, a que os editores não ligavam importância, pois só certo tempo após a sua despedida da vida é que lhe começou a ser dedicada alguma atenção para, passados anos, se ter verificado que ali esteve um homem de enorme importância intelectual.
O mundo é assim e este fenómeno não foi nem será um exclusivo nacional. Muitos acontecimentos foram denunciados ao longo dos anos e sabe-se lá quantos não poderiam ter sido encontrados se as circunstâncias da vida tivessem proporcionado descobertas idênticas.
Temos de concluir, por isso, que, apesar das injustiças cometidas com as não reveladas vocações e as genialidades que terão passado desconhecidas pelos quatro cantos da Terra, sempre será melhor que sejam lembrados os que, mesmo não podendo usufruir do prazer de ver-lhes ser prestado o agradecimento devido, apesar disso sempre os outros acabaram por descobrir um valor por mais tardiamente que seja.
O que ocorreu há pouco com as hossanas cantadas a Raul Solnado que, apesar de tudo, não levou de que se queixar, pois em vida não foi totalmente desprezado, coisa que não ocorreu com muitos dos seus colegas de igual valor ou mesmo mais destacáveis, como José Viana, por exemplo, mas temos tantos ao longo das vidas artísticas de que a juventude de hoje nem sabe que existiram, esse exemplo serve de prova de que os que morreram são mais importantes do que aqueles que ainda se encontram vivos.
Tudo isto serve para dizer que, mal por mal, sempre é melhor ser-se reconhecido quando já somos cinzas do que nem aí os outros encontrarem razão para se recordarem dos que cá é deixado com algum valor, quer se trate de descobertas científicas, quer sejam escritores e poetas, ou tenham sido pintores que nunca conseguiram chamar a atenção dos que estão vivos.
O que se passou depois da morte de Michael Jackson, esse um americano que arrebatou populações, daquelas que quando gostam perdem a cabeça e os que não entendem tais fúrias permanecem nos seus cantos, verificamos que os mistérios criados com o seu desaparecimento têm dado muitas fortunas a alguns, familiares e outros, tal caso também pode suceder e não há que procurar razões sensatas para explicar esses fenómenos.
A vaidade, ainda que depois de já não poder ser exibida, sempre é um defeito ou uma virtude que, quanto mais não seja, podem ser os familiares e amigos a puxá-la para si.

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