terça-feira, 18 de agosto de 2009

FELIZ OU INFELIZ



Haverá quem se preocupe em perguntar a si mesmo se conseguiu atingir a felicidade na vida ou se lhe calhou a outra face da moeda, isto é, se não alcançou sentir o prazer de gozar essa coisa de ser feliz. Poderá ser que, ainda que raramente, penso eu, exista gente que procure descobrir uma resposta a esta pergunta ou, no mínimo, queira tirar dúvidas que atormentem os pensamentos. É que não será fácil estabelecer os dois pratos da balança e colocar neles aquilo que cada um entende que pode fazer parte de ambas as situações. E como, naturalmente, o ser humano atravessa, ao longo da sua vida, situações que se podem encaixar numa ou noutra categoria, bastará ter a capacidade de somar a quantidade e a intensidade das duas fases e tirar a súmula para poder ver qual delas suplanta a outra.
Esta explicação é um pouco confusa, mas será o que se pode encontrar para tentar definir o que cada um considera ser a felicidade e a infelicidade.
O que será mais certo, porém, é que a maioria esmagadora dos habitantes terrestres não se debruce sobre essa questão de apurar qual a condição em que se situa a sua vivência. E ainda bem que o faz, pois, tal preocupação só serviria para, mesmo sem poder ser caso desesperado, grande parte dos cidadãos passar a ter uma vivência dentro do maior descontentamento. Os ricos, então, aqueles que só têm de se preocupar em ir acumulando mais fortuna e em salvaguardar a que conseguiram utilizando os meios financeiros que tal propiciam, tais fulanos devem viver envolvidos numa constante inquietação, consultando permanentemente as tabelas bolsistas e apanhando sustos frequentes sempre que a sua escolha temporária am acções não foi a mais indicada para resguardar o que antes foi adquirido em boas condições. E, no capítulo do relacionamento com outras pessoas, especialmente se se tratam de seres sem comparação possível quanto a haveres, a dúvida no que respeita a poderem depositar confianças nesses companheiros ou se o relacionamento deles só tem fundamento por se sentirem protegidos pelo contacto com quem lhes pode valer, se um dia for preciso. Com esses amigos mantêm sempre uma margem de dúvida, não entregando abertamente o seu coração, como aconteceria se não existisse preponderância de fortuna, de um em relação ao outro. Digo isto, porque tal posição já me foi comunicada por alguém que se angustiava com esta interrogação.
De facto, a felicidade é mais fácil de descobrir em gente desprovida de grandes valores materiais. E, não será descabido afirmá-lo, quanto mais ínfima é a sua situação, talvez mais perto de ser feliz se encontre tal criatura. Desde que tenha saúde, é preciso acrescentar, pois que esta é a base do afastamento de aflições e de existir uma preocupação permanente que não pode retirar desprazer da vida que se leva.
Sempre imaginei que o pastor, aquele que vive com o seu gado, que não toma conhecimento das notícias desagradáveis que a comunicação social transmite todos os dias, que fala com o seu companheiro, o cão, que, fiel como são estes nossos amigos, não lhe dá desgostos, que, na sombra de uma árvore protectora, a hora própria, come as suas fatias de pão, acompanhadas de troços de um belo queijo e bebendo uns golos de um vinho que não lhe custou muito caro, embora seja bom, esse guardador de gado poderá ser o indivíduo deste mundo que mais perto se encontra da tão desejada felicidade que os bem situados na vida muito procuram.
Mas o mundo está repleto de contradições e de injustiças. E o Homem é o grande culpado de contribuir para que o invólucro humano não permita que os habitantes terrestres atravessem as existências com menos infortúnios e com pleno prazer de por cá passar uma temporada.
Há as felicidades temporárias e até momentâneas. Jogar numa lotaria e ser premiado com uma boa quantia, constitui um desses prazeres que quase toda a gente aspira. O pior é depois. É o ocultar essa sorte, até da própria família, pois o receio de vir a ser “atacado” com pedidos de ajuda, com propostas de negócios, e até o medo de poder ser assaltado por profissionais do roubo que tomem conhecimento da ocorrência, tudo isso transforma uma felicidade na maior amargura que até então se teve.
Por todos estes factores, cabe-me a mim também pôr a questão de pretender saber se a felicidade me bateu à porta ou andei sempre por caminhos diferentes. E, pior do que isso, não encontro resposta para indicar a via que eu procuraria descobrir. Como, ao longo da minha via sacra sempre lá fui conseguindo obter alguns resultados com as minhas actuações, c om imenso esforço e enormes sustos, não escondo, mas tenho de reconhecer que lá consegui ultrapassar várias fasquias que a andança pela vida coloca no nosso caminho, mas, não o escondo, tendo sempre pela frente a luta para ultrapassar as dificuldades, especialmente as de recursos financeiros escassos em relação aos mínimos exigidos em cada caso, apesar disso não posso considerar que a felicidade me acompanhou todo o tempo, pois os sustos que se apanham sempre que parece que se está numa fase em que não se consegue vencer os contratempos, esses sobressaltos não conseguem tapar a sensação de infelicidade.



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