domingo, 14 de junho de 2009

PERGUNTA



Eu pergunto-me, pergunto-me, procuro saber a resposta mas ela não aparece e não consigo descortinar a forma de obter satisfação a esta minha dúvida: qual a razão que me leva a este extremo de estar a perder, cada dia que passa, cada vez mais consideração pelos políticos tidos como profissionais dessa actividade. Eu que, pela profissão que exerci ao longo dos anos, antes e depois do 25 de Abril, tive oportunidade de conviver com tantas personalidades situadas nessa área e que conheci, como pessoas, um apreciável número de indivíduos que tinha e tenho de considerar como gente merecedora de consideração e, em certos casos, de amizade, ao analisar os feitos que saíram de uns tantos entra-me um azedume que só disfarço com a escrita a que me dedico, para fazer desviar a atenção para situações bem diferentes daquilo que constitui a sua actividade relacionada com a vida no nosso País.
Tenho que dizer isto, se bem que possa soar a elogio em boca própria: é que se me calhasse a mim assumir a responsabilidade de algum lugar visível e de importância quanto ao desenvolvimento nacional em alguma área considerada prioritária, não tomaria nunca o ar de ser portador da sabedoria total e muito menos assumiria a arrogância de afirmar que nunca me enganava e as dúvidas eram coisas que nunca passariam pelas minhas decisões. Estaria sempre pronto a mostrar que me tinha equivocado em alguma atitude tomada antes, pois não é por um ser humano se encontrar circunstancialmente num lugar em que pesam sobre si enormes responsabilidades de decisão, não é por isso que tem de estar sempre certo no que diz e no que faz. Por isso, o reconhecer um engano não pode constituir um crime pesado. O que sim tem de ser objecto de crítica e de admoestação é praticar esse erro e insistir nele, sem dar a mão à palmatória, não fazendo o possível para ir ainda a tempo de proceder à emenda.
Ora bem, aquilo a que se assiste cada vez com mais insistência é precisamente à prática de equívocos políticos originários de elementos que foram escolhidos pelos responsáveis principais dos Executivos, os quais tomam posse por via da indicação dos votos da população. E essas incompetências custam fortunas ao erário público, sem que exista uma determinação que lhes indique o caminho da porta da rua e, os faça responsavelmente pagar pela falta de capacidade de gerir os bens que são de todos os cidadãos.
As obras que são feitas e pagas pelo Estado, em que são verdadeiros rios de dinheiro que se perdem em virtude da falta de cumprimento dos orçamentos estabelecidos para efeitos dos concursos públicos, estes que ultrapassam em dobro e em triplo os valores indicados nos cadernos, ao que se têm de somar os prazos que também não são respeitados, prolongando-se anos e anos as datas de finalização estabelecidas, isto também representa custos que têm de ser suportados pelo erário que os cidadãos sustentam.
Foi agora tomada uma decisão de ser criado um organismo que (segundo parece vai oferecer mais alguns postos de actuação em que lá caberão, como é costume, uns tantos protegidos políticos) tem como objectivo fiscalizar o cumprimento de execução das obras públicas, no que respeita a custos finais e prazos de acabamento. Quer dizer, a Revolução ocorreu há 35 anos, passaram pelos Governos dezenas de bem instalados, desde sempre que têm lugar as saídas de milhões de euros dos cofres do Estado para liquidar as contas das obras públicas, sempre, ao longo de todo este tempo se tem verificado, mas só agora é que se “acordou” para esta necessidade de não deixar à solta a fiscalização dessa área tão importante. É obra!
A casa da Música (com uma derrapagem de 62 milhões e um atraso de 4,6 anos), antes a ponte Vasco da Gama (com aquele prolongamento em curva que não se entende outro motivo que não seja o fazê-la mais cara), o túnel do Rossio, o mesmo no Terreiro do Paço – esse então até faz dó saber que tem a mão de técnicos nacionais e isso provocou um desvio orçamental de 29 milhões de euros -, tudo isso para além de múltiplos outros que são o sinónimo de obras que nunca mais acabam, o que se passa por esse País fora em que as autarquias fazem das suas, com pouca fiscalização honesta, tudo isso é que constitui o Pão Nosso de cada dia neste nosso cantinho.
Eu, que recebi em minha casa, durante muito tempo, todas as sextas-feiras, tudo o que eram políticos desta Terra, de Esquerda e de Direita, e simultaneamente, muitos em actividade também hoje, em jantares em que a minha Mulher se esmerava, tudo para poder contribuir para a convivência entre adversários partidários, verificando que existia, na realidade, um relacionamento que permitia a troca de opiniões com absoluta boa vontade, perante essa situação tenho dificuldade em aceitar o motivo por que cheguei a este ponto de falta de consideração pelos profissionais da política que actualmente se sentam nos cadeirões de qualquer poder.
Eis, pois, a explicação do meu desencantamento (tenho até um livro pronto a ser editado, com o título “Desencanto… por enquanto!”) no que diz respeito ao que me é proporcionado assistir na Terra onde nasci. Se ainda existisse o meu antigo semanário, “o País”, que sempre primou pela independência absoluta, seguramente que seriam muitos os inimigos que teria que enfrentar, pois isso da Democracia, da aceitação das opiniões dos outros, da convivência salutar com aqueles que têm opiniões diferentes das nossas, não chegou ainda cá com inteira pureza. Trinta tal anos de liberdade não chegaram para educar este povo e, como já escrevi neste blogue, enquanto não existir uma classe para a miudagem do primeiro ciclo que ensine e estimule os princípios democráticos, essa prática não se instalará em Portugal. Continuaremos a ser como sempre fomos. A nossa opinião é que conta e o resto não merece importância!
Daí o meu azedume em relação aos políticos que temos. Eles saem da massa popular…

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