domingo, 17 de maio de 2009

GERAÇÃO SOFRIDA

Que esperanças tinha que houvesse Abril
o que eu ansiava por fim do inferno
bem dentro guardava sonhos mil
e que apodrecesse o que era governo

Levou tempo, tempo demais, demais
vivi o antes até demasiado tarde
passei por excessivos vendavais
tropecei em muita gente cobarde

Até que chegou, não era sem tempo
veio com armas, não era o ideal
para tantos terá sido um contratempo
não estava no programa tamanho funeral

Foi a euforia, a loucura nas ruas
tirou-se o tampão da garrafa fechada
tal como quem tira por fim as gazuas
do portão de uma quinta trancada

Uns quantos tinham razão de estar felizes
terão sofrido muito até então
não tiveram conta por quantas crises
passaram, apenas por dizerem não

Mas terá sido assim com a maioria,
toda essa gente que se mascarou
vestiu a farda do revolucionário, seria,
por dentro aquilo que mostrou ?

Quantos apanhada a carruagem em giro,
não foram os que ganharam com a troca ?
Fizeram tal e qual como o vampiro
e puseram-se, matreiros, bem à coca

Como ganharam com isso os aproveitas
chorudo futuro festejaram
valeu a pena a troca, largas colheitas
tiraram do campo que outros lavraram

Aqueles que tinham idade para tanto
e passado que sangrava em ferida
quase que foram postos a um canto
tratava-se, afinal, da geração sofrida

Sofrer antes e sofrer depois é muito
não é justo, há que reconhecer
poderá não ter sido esse o intuito
mas é algo que dá para entristecer

Geração sofrida, tem que se dizer,
ela existe, obscura e triste,
a juventude nem pode agradecer
ninguém mostrou e disse em que consiste

E assim se vai escrevendo a História
com lacunas, esquecimentos, inverdades
a geração sofrida escapa à memória
quem não sabe não alimenta saudades

Geração sofrida,
O que não pode estar é arrependida

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