domingo, 17 de maio de 2009

GUERRA MUNDIAL



Toda a gente que não sentiu directamente os efeitos da Guerra Mundial, nem mesmo ao ter decorrido há dias o 64.º aniversário do fim desse flagelo, se pode dar conta do que representou essa convulsão universal que alguns, ainda conservados, viveram. Mesmo que Portugal não tenha participado directamente no conflito, não se deixou de, por cá, tomar contacto com os efeitos da referida catástrofe, sobretudo na falta de produtos principalmente alimentícios e com racionamentos impostos.
O momento de crise económica, financeira e social que se atravessa faz recordar, de certa maneira, as carências daquela época de conflito, se bem que, nesta altura, seja a pequenez do poder de compra que mais se reflecte no dia-a-dia dos cidadãos.
Seja como for, quem hoje tem uma idade superior a 70 anos, quem, mesmo que ainda criança na altura, tenha participado nas enormes filas que se formavam para adquirir alguns elementos essenciais à alimentação, como são o azeite, o arroz, o açúcar e até o pão, tendo de gerir muito bem as senhas de racionamento, não pode deixar de estabelecer um paralelo com as dificuldades passadas em tal período.
No entanto, esse exercício de estabelecer uma relação entre as duas épocas provocará uma tendência para tentar comparar as suas situações e estabelecer qual das duas será a mais difícil de suportar. É que, para se adquirirem produtos alimentares essenciais à vida da família se tornava necessário assumir diversas habilidades e passar longas horas da noite em “bichas”, mas, para se conseguir dinheiro, que é o que escasseia cada vez mais, não há fila que valha… E também para se arranjar emprego, seja qual for a idade do pretendente e a preparação académica de que disponha, há quem se mantenha meses e até anos na esperança de alcançar tal desiderato.
Daí que não se possa considerar tão disparatado estabelecer este paralelo. É que, actualmente, em que não se descortina forma de pôr fim a esta arrasadora crise internacional e em que, por toda a parte, se contempla o espectáculo degradante da queda social de famílias inteiras, com os filhos sem poderem ser atendidos, as percas das residências e as carências de alimentação, numa palavra, com a miséria sem tréguas a atacar gente que não tinha experiência em defrontar-se com as faltas de tudo, não será assim tão estranho que se ponha a questão de se não estará a fazer falta uma guerra que, por um lado reduza o excesso de população que atingiu proporções insustentáveis para o que a produção mundial pode suportar e, por outro, transforme o desemprego em abundância de trabalho para todos. A construção civil, essa, pelo menos, beneficiará muitíssimo com as destruições. Mas não só essa.
É verdade que um texto deste tipo provoca a revolta em muita gente. A mim também, que o escrevi. Mas, perante a incapacidade, já admitida universalmente, de não se saber se e quando se porá fim de vez à situação aflitiva que se atravessa há já demasiado tempo, em vez de assistirmos a este estado de definhar cada vez mais, tal como sucede com os transtornos de saúde que obrigam a cortar uma parte do corpo para o resto se salvar, assim também poderá ser a forma de revitalizar o mundo de uma enfermidade lenta e crónica, essa que, como agora se assiste, torna os ricos cada vez mais ricos e os miseráveis sucessivamente com mais carências.
É doloroso ter de admitir esta possibilidade. Lá isso é. Mas se não existir outra alternativa?

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