sábado, 28 de fevereiro de 2009

SÓCRATES E O CONGRESSO


A começar por mim!..”, foi esta a frase que saiu da boca de Barack Obama quando, há dias, fez declarações públicas lá na Casa Branca.
Quer dizer, o presidente americano, ao ter feito várias recomendações quanto à forma de vida que as circunstâncias da crise mundial impõem, como sejam as dos cortes de ordenados fabulosos, o fim de gastos sumptuosos públicos que não podem continuar a ser levados a cabo e a mordomias que é forçoso que terminem quanto antes, e não deixando de salientar que essas medidas restritivas seriam aplicadas a si mesmo, Obama colocou-se na posição de se prestar a exemplo para todo o mundo onde a crise tem efeito.
Ora bem, mesmo não podendo comparar o modo de actuar de José Sócrates a nenhum dos chefes de política de países que, tendo povos que vivem miseravelmente, sobretudo em algumas zonas de África e em regiões do petróleo, mesmo assim se comportam, nas áreas supriores, a um nível de fausto que não é moralmente admissível, repito, não podendo honestamente estabelecer esse tipo de equivalência, mesmo assim não é possível deixar de salientar que o Governo actual não tem sido capaz de estabelecer prioridades e de, no capítulo das despesas, e que tenha conseguido distinguir permanentemente o urgente do supérfluo. E isso, sobretudo, nas obras e nas acções que, arrombando os cofres do Estado, bem poderiam ter sido colocadas numa “fila” de espera.
Mas, referindo-me a ele próprio, a Sócrates, nas suas falas públicas, quanto a mim, tem pecado por optimismo inadequado às circunstâncias concretas do nosso País – embora, nesta altura, ao não conseguir fugir aos efeitos da crise que está aí para todos a verem, se mostre um pouco mais moderado -, e não tem sido capaz de usar de uma linguagem que transmita confiança aos cidadãos, aceitando que todos os homens cometem erros e não é por se encontrarem, numa altura determinada, na área da governação que tudo que fazem está livre de equívocos e de opiniões contrárias.
O que tem valido a José Sócrates é que, na área das oposições, não se encontram potenciais governantes que permitam, quando chegar a altura das eleições, optar por outra solução. Na verdade, Portugal está ingovernável neste momento, e não surgiram ainda propostas de outros partidos suficientemente numerosos em filiados, que possam ser considerados opções válidas. Mas isso não pode nem deve constituir uma forma de conformismo. O que se tem é que exigir do chefe do Governo que abandone a sua forma de responder às oposições que fazem o seu dever, que é o de criticar, e que apresente propostas, ele também, sujeitando-se a que os contrários não alinhem nas suas decisões. E dando-lhes razão quando for caso disso.
Vá lá, José Sócrates. Já que não pode fazer muito para que a crise seja ultrapassada, pelo menos actue naquilo que ainda depende da sua acção para melhorar certos vícios que se mantêm no nosso País. A Justiça, por exemplo. Mude de ministro e mostre que está receptivo a que o sistema pode e deve ser modificado. E isso é extremamente urgente. Na Educação, também deixe de mostrar essa amizade doentia com a ministra, e oriente uma forma de ultrapassar as greves dos professores (mesmo que eles não tenham completa razão) e, para além disso, meta mão no caso da Faculdade de Medicina, acabando com essa exigência estúpida de só serem admitidos alunos com notas altíssimas, dando no que agora se verifica da falta enorme de médicos portugueses. Já agora, nas Obras Públicas, dê descanso ao “jamais” que, em termos de imagem, representa a anedota deste Executivo.
E, acima de tudo, acabe com as regalias monetárias que são dadas a todos os fulanos que saem da política e são logo colocados em lugares de administração de empresas dependentes do Estado. Desde que eles sejam devotos seguidores do seu Partido. Esse escândalo não pode continuar.
Isto é apenas um pequeno e fugaz exemplo do que pode fazer nesta fase. Já que está, segundo parece, condenado a manter-se no seu pelouro depois das próximas eleições (isto se não ocorrer nenhum fenómeno inesperado), mude completamente de comportamento. Aceite que tem tido má imagem. E, pelo menos aí, dê mais conforto aos olhos e aos ouvidos dos portugueses.
Não se julgue sempre com razão, porque não existe no mundo quem nunca se engane. Seja flexível e verá, já que, pelos vistos, vamos ter de o manter na governação – isto não é um desejo, mas uma previsão -, que o ambiente no País a seu respeito talvez melhore um pouco.
Este congresso do PS, agora inventado para seu conforto pessoal de se julgar sempre rodeado de maiorias, não veio, em relação aos problemas nacionais, resolver nenhum conflito. E, ainda por cima, mostrou que, para Sócrates, é mais importante ser aplaudido pelos seus seguidores, do que discutir na Europa soluções que interessam a todo um conjunto largo de situações que estão envolvidas pela crise mundial. Por muito que tenha querido justificar-se no final do tal convívio no Norte.
Esta, do Congresso completamente inutil para o País, pode pesar no momento em que os portugueses tiverem de ir às urnas fazer a escolha. Se é que a população ainda ligue o mínimo de importância a estas distracções dos políticos. Pelo menos, quanto a maiorias, será caso para pensar duas vezes!...


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