sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

SANTA TERRINHA

Que pena que eu tenho de não ter uma terra
Onde pudesse voltar p’ra matar saudades
Fosse na planície fosse em qualquer serra
Daí onde tiraria grandes verdades

Mas não, apego não sinto a um local
Em que as origens fossem todo o meu ser
A razão de existir, a fonte do caudal
Que desaguei por aí, sem eu querer

Ir visitar a casa onde eu nasci
Passar pela rua que me levava à escola
Contemplar as árvores onde não subi
Ver se ainda lá estava o campo da bola

E a velha mercearia de um senhor Manuel
A igreja barroca com seus sinos sonoros
As colmeias no campo cheinhas de mel
E o belo ribeiro em que passaria horas

Tudo isso me falta, agora que eu penso
Como seria diferente a minha vida
Se algo de calmo, como cheiro a incenso
Tivesse encarnado na minha nascida

Essa marca forte de uma santa terrinha
Tal apego ao sítio que nos viu nascer
É sorte de outros mas que não é minha
Algo que me faz falta, enquanto eu viver

Só se eu voltar em outra encarnação
Se é que isso existe, como dizem tantos
Poderei assim obter a confirmação
De que, por fim, me calhariam tais encantos




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