quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Andei, um dia destes, às voltas para encontrar uns apontamentos que me lembrava de ter escrito e que me apetecia reler. Às vezes tenho destas coisas.
Procurei por toda a parte, revolvi gavetas, desmanchei pastas, meti as mãos em cacifos onde não seria muito normal encontrar-se o que procurava e foi aí, afinal, que acabei por descobrir uma quantidade de outros manuscritos que já nem tinha a mais leve ideia de que tinha sido eu o autor.
É sempre assim: a maneira mais rápida de encontrar algo inesperado é procurar e encontra-se quase sempre aquilo que não se procura.
Pois, no meio da papelada que não tinha estado na preocupação da minha busca ao guardado, fui dar com um papel amarrotado, que nem consigo perceber o motivo por que não foi parar ao caixote do lixo. E, com surpresa, apesar do muito tempo que tinha de arrecadado, despertou-me a atenção, fui reler, e fiquei surpreendido com a qualidade do texto que tinha produzido. Afinal, parece que, como o vinho, o manter em sossego certa produção artística acrescenta-lhe qualidade, adiciona-lhe fermento ou seja lá o que for que, tempos mais tarde, lhe provoca um certo sabor que antes passaria despercebido. Será por isso que os pintores, de uma forma geral, não começam e acabam um só quadro de enfiada, antes vão desenvolvendo o seu trabalho, vão fazendo, pondo de parte para voltar a ele noutra altura, mais tarde, quando a inspiração lhe indica o caminho a seguir.
O apreciar um escrito também tem uma dose parecida. Pode ser produzido de rajada, como, de igual modo, não será pior que fique algum tempo “de molho”, ganhando paladar, para se mastigar melhor e ser mais digerível.
Não é, nem pode ser, uma regra. Há prosas e poesias que têm o seu tempo. Como há ocasiões em que o que se lê mais tarde soa a azedo, diferente da qualidade que terá parecido ter na hora de ser produzido. Nem sempre é a idade que melhora a escrita.
Comigo, o que se passou foi que não encontrei um texto e acabei por dar com outro que ganhou com a arrecadação no meio dos papéis perdidos. Isto há cada coisa!...

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