segunda-feira, 1 de setembro de 2008

UM SALTO A ESPANHA


Regressado de uns dias passados em Elvas, numa quinta que se situa já a caminho de Jerumenha, volto ao contacto com os blogues, deixando aqui o que me vai na alma, pois o que escrevo representa o que penso e que tenho necessidade de transmitir a quem esteja disposto a ler-me.
Claro que, quem se desloca àquela cidade alentejana, situada junto à fronteira com o País vizinho, um salto até ao outro lado constitui visita obrigatória a Badajoz, cidade que está colocada em quinto ou sexto lugar na ordem das grandes urbes espanholas. E já houve tempos, de facto antigos, em que uma deslocação de portugueses a essa cidade constituía uma avaliação da pobreza espanhola, em que as alpargatas faziam parte da indumentária usada pelos homens, e, da nossa parte, lá íamos comprar rebuçados e levávamos nós café, que ali faltava e que deu ocasião a que surgisse uma oportunidade milagrosa para o hoje muito rico Nabeiro.
Mas, Badajoz hoje é uma cidade em que a prosperidade salta de todos os lados e o bom viver de toda a gente, com carros do mais moderno e do mais caro que se encontra no mercado, passam por largas avenidas, ao mesmo tempo que as lojas exibem o que se encontra em qualquer parte da Europa e até o conhecido El Corte Inglês se apresenta mais farto e atraente do que o que temos em Lisboa.
Mas falando de lojas, a grande diferença que se nota à vista desarmada é o atendimento e a prontidão dos empregados. Sempre que se entra num estabelecimento salta, em seguida, um funcionário a perguntar “se pode ajudar”, não nos dando tempo nem para reflectir. Até no grande armazém de que temos uma réplica na nossa capital, mesmo aí todo o pessoal não deixa a freguesia isolada. Estão ali para vender e, apesar da escola que tiveram os e as caixeiras portugueses/as que estiveram em Madrid para aprender a técnica do bom atendimento, mesmo assim nota-se uma enorme diferença.
Feito este apontamento que, já sei, provoca a alguns aljubarrotistas o comentário de “lá está o defensor dos espanhóis”, ao regressar li no “Diário de Notícias” a notícia de que os trabalhadores espanhóis que exercem em Portugal a sua profissão, especialmente os muitos médicos e enfermeiros que aqui preenchem a falta de profissionais portugueses, mas que mantêm a sua residência em Espanha, esses profissionais que, até agora, não podiam efectuar as suas deslocações cá dentro usando as suas viaturas, tendo que pagar, para isso, o imposto ISV, a partir de agora tem permissão de circular livremente em Portugal com os seus carros.
E, parecendo que não, são mais de 10 mil os espanhóis que se encontram a trabalhar actualmente em Portugal!
No caso dos médicos, como é sabido por toda a gente menos pelos responsáveis do Governo, deste e dos anteriores, aquele castigo de só poderem frequentar a Universidade de Medicina os alunos saídos do secundário com média superior a 19 valores, faz com que seja inferior às necessidades a saída de médicos portugueses. E como são necessário seis anos para que um profissional desta área se forme, o resultado está à vista: precisamos do auxílio dos nossos vizinhos ibéricos para preencher as vagas que se verificam e até já se abriram as possibilidades de trabalhadores de países de Leste que sejam licenciados em Medicina – e há-os até a trabalhar nas obras -, apresentarem a sua documentação que prove o exercício de medicina antes de terem emigrado para aqui, e poderem suprir a falta de médicos portugueses.
A rapaziada nacional, o que faz é, saídos do secundário, partir para Espanha e ali seguirem a aprendizagem da profissão que, no nosso País, estão impedidos de fazer pela tal exigência estúpida de obterem antes aquela média que não é garantia de ter vocação para vir a ser um bom médico. Como não é preciso ser um bom aluno no secundário, para poder vir a ser um bom padre. Porque o essencial é ter vocação e aprender bem o que a Universidade pode ensinar.
Mas que governantes há que possam compreender a realidade da vida?

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