quarta-feira, 10 de setembro de 2008

REPOVOAR LISBOA




É por demais sabido que, em comparação com muitas cidades europeias, sobretudo as espanholas, Lisboa, apesar de ser uma capital, é um burgo que, a partir de umas certas horas avançadas da tarde, surge como que vazia de população, triste, despegada daquele movimento que torna uma cidade interessante de percorrer para se identificar com os seus cidadãos, sobretudo na zona denominada por “baixa”- E isso tem vindo a agravar-se desde há vários anos, dada a substituição progressiva dos alugueres a famílias pelos clássicos escritórios, o que, naturalmente, a partir da hora dos encerramentos dos serviços, desumanizam as áreas que ocupam.
E há ainda outra razão para tal vazio de pessoas nos locais agora entristecidos. É que, nas áreas conhecidas como pombalinas e nos bairros clássicos que não têm nada a ver com a invasão do cimento, os prédios antigos vão pagando o preço da idade, ficando abandonados ou apenas ocupados por gente velha que não tem mais remédio que não seja ir tapando buracos e aguardar pelo momento em que a sua mudança lhes está destinada para um cemitério.
Ora bem, apareceu agora a notícia de que o presidente da Câmara Municipal encarregou a vereadora Helena Roseta de “repovoar Lisboa”. Foi este o título que deu ao cargo que lhe atribuiu.
É, de facto, uma missão que tem de caber a alguém que esteja disposto a arregaçar as mangas e a pôr a imaginação a funcionar. Porque trabalho não lhe falta.
Eu, por mim, que desde há muitos anos, como jornalista, me preocupo com o estado a que tem vindo a cair na nossa capital e alguns se lembrarão das minhas crónicas semanais no “Diário de Notícia”, com o título genérico “Esta Lisboa que eu amo”, tenho um plano aturadamente estudado quanto ao que há a mexer na nossa capital e, sobretudo, quais as prioridades que há que ter em conta, dado que todos sabemos que dinheiro é o que não sobra por aí. E, uma das coisas que se impõe implantar, quanto antes, é uma legislação que permita que mãos honestas situadas no Município (e esse escrúpulo tem de existir) apliquem a obrigatoriedade de todos os prédios caducos que existem às centenas sejam sujeitos a obras e que os novos ocupantes venham a ser de famílias, especialmente jovens, para modificar a imagem de decadência que se vive na capital.
Claro que as leis têm de surgir por forma a que, se os proprietários actuais dos caducos prédios não tiverem meios para efectuar as obras necessárias, nesse caso poder o Município pôr a leilão o espaço e dedicar uma percentagem da venda aos antigos donos do prédiozinho condenado, mais dia menos dia, a desmoronar-se. Mas tudo isso sem burocracias medíocres, que é o que logo surge quando há que executar medidas que saiam do tradicionalismo lusitano.
Não, não é um sonho. É perfeitamente possível pôr em prática esta medida. O cuidado a ter é com os “xicos espertos” que andarão à espreita para tirar algum proveito das vendas e das buscas de novos proprietários. Pois isso é o que mais existe por aí e bem se sabe quantos funcionários antigos de todos os municípios que enriqueceram à custa das suas entradas em negociatas que, geralmente, acabam por ficar no silêncio dos burlões. Lembram-se do caso da Lanalgo? pois, iquais a esse, muitos deram fortunas a toda essa gentalha que, como é sabido, sairam do serviço municipal com os bolsos a abarrotar...

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