segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A CABALA



A palavra tem andado, há uns tempos para cá, muito nas páginas dos jornais. E alguns políticos utilizam-na com excessiva frequência, talvez sem cuidarem de saber exactamente qual a sua origem e menos ainda o seu significado, mas, seja como for, sobretudo o caso que se tem arrastado há anos, o da Casa Pia, é que apelou ainda mais ao uso daquela designação.
Trata-se da palavra cabala que, na interpretação mais vulgar, significa maquinação, tramóia e maledicência saída de grupos formados para destruir alguém ou alguma coisa. Daí vem a expressão tão usual agora de “cabala na Casa Pia”, aplicada nas situações de prisões preventivas, quer para as justificar quer, pelo contrário, para defender vítimas dessa aplicação legal.
Mas adiante. O que eu aproveito é para esclarecer quem eventualmente não saiba, que a palavra resulta de uma interpretação hebraica, mística e alegórica do Velho Testamento e, segundo um bom dicionário, significa a arte imaginária de comunicar com espíritos e, a partir do século X, a cabala considerou-se como uma ciência secreta e misteriosa dos judeus. Logo, há que ter algum cuidado e atenção quanto a haver pretensões de se considerarem cabalistas todos os que usam a expressão por dá cá aquela palha.
Seja como for, acho curioso que, num processo que constitui uma verdadeira demonstração da ineficiência da nossa Justiça, no sentido geral da expressão, que ninguém sabe como é que vai terminar aquele “folhetim” vergonhoso, quando se vêm já em plena movimentação figuras que, durante um largo período, se mantiveram encarceradas, é estranho, no mínimo, ter mais importância uma palavra de que poucos conhecem a origem e o seu significado do que a explicação dos motivos do arrastamento do processo – e dos seus custos que todos nós suportamos – e a demonstração pública de que há que fazer alguma coisa numa área que é das mais mal tratadas do conjunto de problemas que afectam o nosso País.
Deixemos, pois, a cabala e façamos todos algo para que passemos a ter em Portugal uma Justiça justa, rápida e eficiente. Ámen.

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