quarta-feira, 9 de abril de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!


Francamente, entendo que é altura de me interrogar sobre a razão por que ando eu nesta azáfama de escrever. De aproveitar todos os momentos para encher os papéis de palavras, uns dias prosa, outros dias a poesia.
Pergunto-me e não obtenho resposta. Isto de vir rodos os dias ao café, beber uma bica, amenizar com um copo de água e tirar da pasta as folhas de papel já escritas de um lado para aproveitar as costas em branco para, logo de seguida, encher de texto o que está ali à minha disposição, este exercício que já se tornou rotineiro nesta altura da minha vida, serve para quê?
Trago também na pasta três ou quatro livros que, por vezes, me ajudam a puxar pela imaginação. Como sucede neste momento, em que reli um texto do meu inspirador preferido, Fernando Pessoa.
Mas, frequentemente, quando saio de casa e me encaminho para este café habitual, já venho pelo caminho a mastigar um tema, o qual se me salta ao reparar em qualquer situação que surja aos meus olhos.0s jornais e os seus títulos constituem também um apreciável manancial para me agarrar a um assunto.
Torno, porém, a fazer a pergunta: Para que serve debruçar-me, na mesa do café, sobre as folhas que disponibilizo para serem preenchidas com texto que ninguém encomendou?
Na busca de uma resposta, chego a concluir que isto de escrever é um vício. Sempre o fiz toda a vida, só que antes era por obrigação e agora é por devoção. No tempo anterior era remunerado pela escrita que produzia e agora não recebo sanão a satisfação interior de admitir que a prosa ou o verso que produzo não constituem um absoluto tempo perdido.
E é tal ilusão que me leva a repetir, diariamente, essa via-sacra até ao café. Embora, com frequência, me amargure o facto de reconhecer que aquilo que escrevo não adianta nada ao mundo. Debitar sentenças ou ficar simplesmente contemplativo é igual. Mas, tenho de confessar, existirá algo de vaidade neste masoquismo da escrita. A busca da perfeição, mesmo não sendo conseguida na totalidade, é algo que está associado ao lustrar o ego. No fundo, existe sempre uma esperança de que não sejam só os outros que conseguem ser apreciados. E, por outro lado, a ânsia de certo merecimento leva a que um criador deprecie muito o que se vê nas bancas livreiras e se questione sobre se esses conseguiram interessar os editores, então algum dia chegará a vez dos desprotegidos.
Seja como for, por muito que os autores de café se sintam frustrados pela falta de interesse em publicar o que conseguem deitar para fora, compensam esse abandono com a acumulação de obra produzida.
É isso que se passa comigo. Darei razão a quem não atribui valor bastante ao que produzo ao ponto de ser passado a livro o que me sai da pena. O sector editorial é um comércio como qualquer outro e terão muito maior aceitação pública os escritos que foquem escândalos, que se refiram a amores escabrosos e sejam de preferência de autores femininos, se envolverem personagens ligadas à exposição pública de qualquer ordem, se, colocando em plano secundário, a qualidade literária, se dê preferência ao antecipadamente vendido por força da expectativa que é criada através de promoções chamativas que não têm nada a ver com a classificação do texto.
Inclino-me perante a invasão de livralhada que se situa na classe dos vendáveis a quem não mostra grande preocupação com a mínima qualidade literária. Têm razão os que vendem, porque querem ganhar dinheiro, e os que compram tal literatura, porque não têm satisfações a dar a ninguém sobre as suas preferências.
No meu caso, como o escrever ameniza o desconsolo que se me vai enraizando quanto ao mundo em que vivemos, faço-o como medicina que recomendo a mim próprio. E como os remédios não devem ser tomados sem receita médica… não tenho que obrigar os outros a seguirem a minha prescrição.

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