quarta-feira, 9 de abril de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!


MORRE LENTAMENTE…


quem não aceita envelhecer
quem lhe é indiferente o que se passa à sua volta
quem não tem desejos
quem não consegue encontrar virtudes e defeitos na sociedade
quem nunca se revolta, por mais horrorosos que sejam os acontecimentos
quem tanto lhe dá a rua por onde caminha, basta-lhe o destino
quem lhe é indiferente a música que escuta
quem não consegue ler nem ouvir uma poesia
quem nunca pegou num livro e não lhe interessa o que os escritores têm para comunicar
quem fecha os ouvidos aos que sabem mais têm para dizer
quem não sonha, não idealiza, não ambiciona
quem anda permanentemente com o pavor da morte
quem anda sempre conformado com o que a vida lhe proporciona
quem não sabe conversar consigo próprio, não perguntando e não respondendo às suas próprias questões
quem não se espanta com nada, achando tudo normal
quem está convencido que se conhece bem a si próprio
quem só conhece a sua rua e não se preocupa em conhecer outras
quem nunca parou para contemplar a lua, não olha para as estrelas e não tem interesse em ver o sol, mesmo através de um vidro fumado
quem nunca se embriagou, pelo menos uma vez
quem nunca sentiu os prazeres da carne
quem nunca sentiu as influências do espírito
quem não sabe e não sabe que não sabe
quem nunca alimentou fantasias
quem não teve a tentação de despir outrem e, em imaginação, gozar o espectáculo da sua nudez
quem não é capaz de ouvir o silêncio
quem não ama as flores e tudo que a Natureza oferece
quem julga que vale mais do que, de facto, vale
quem crê que vale mais do que todos os outros
quem nunca parou para pensar e, fazendo-o, não tem a humildade de reconhecer que errou
quem nunca hesita antes de tomar uma decisão séria
quem nunca quis pôr-se no lugar de terceiros
quem se ilude com as suas próprias mentiras
quem não desiste das suas convicções, mesmo em face de argumentos que as anulam
quem não acredita no que diz… mas diz
quem anda sempre a pedir a Deus que o perdoe, mas não é capaz de perdoar os outros
quem tem coração que é cego
quem é vazio de interior, exibindo largamente o que tem de fora
quem, fugindo ao seu destino, anda permanentemente a esbarrar com ele

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