domingo, 30 de março de 2008

Uma vida difícil (7)

(continuação)
Com grande desgosto, pois sentia-me muito bem no ambiente da Bertrand, respondi então a um anúncio e fui convidado para uma reunião na Companhia Singer, com escritórios perto de Santos, onde fui aceite, para entrar dentro de dias.
Quando chegou a data de me apresentar não compareci e foi devido à insistência telefónica do director da Singer, Eduardo Montez Nery, que me tinha entrevistado e apreciou o meu comportamento, tendo-se tornado depois um grande amigo, que acabei por ceder e deixar a Bertrand. Aliás, para a altura, o ordenado era quase o triplo do que recebia até então.
Mas senti-me, de facto, muito mal nas novas funções, embora tivesse ido, logo de entrada, desempenhar funções no departamento da direcção de Lisboa. O ambiente, meio boémio e literário que se respirava na Bertrand, não tinha nada a ver com a rigidez de uma empresa americana, sobretudo porque se tornou quase impossível conciliar o trabalho com os estudos, apesar do horário de trabalho ser melhor. Ainda aguentei, mesmo assim, perto de três anos... mas comecei a pensar em desistir.
Nas primeiras férias que tive – e tenho a impressão que foram as últimas, por minha iniciativa, em toda a minha vida -, uma escassa semana, fui por minha conta a Madrid, de combóio, em 2º. Classe, e dispondo apenas de mil escudos para lá passar uns dias.
Instalei-me na Pension Millan, na Gran Via, onde pagava 60 pesetas por dia, pensão completa – num 5.º andar em que só se podia usar o elevador para subir - . Com o câmbio a 2 pesetas cada escudo, consegui sobreviver e conheci nessa altura o director de uma agência jornalística espanhola, a Argos, José Luís de Castro Vazquez de Prada, que me convidou para ser representante em Portugal, com o encargo de enviar semanalmente material jornalístico sobre o nosso País, o qual era publicado em cerca de 60 jornais espanhóis de província, muitos deles diários de tiragem superior aos grandes portugueses.
(continua)

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