terça-feira, 23 de agosto de 2011

TER RAZÃO ANTES DE TEMPO...






Este texto foi publicado numa coluna que mantive no “Diário de Notícias”, há já, pelo menos, cinco anos. Por aqui se vê como a minha luta em tentar que os governantes que ocupam os lugares de comando dediquem alguma atenção em conhecer os pontos de vista de quem dá mostras de se preocupar com o que se passa no nosso País. Essa preocupação não é de hoje.



GASTAR MENOS NESTE PAÍS
PODERÁ dar o ar de pretensiosismo será provavelmente arrogante o título. Seguramente haverá quem encontre nesta afirmação algo de exagero. Aceito tudo isso. Com a devida humildade.
Mas, o que é certo é que, até hoje, não percebi na boca e na intenção de qualquer candidato aos diferentes lugares políticos uma indicação de que poderia existir o desejo de actuar dentro dos moldes que defendo. E essa minha proposta não é só de hoje, pois há bastante tempo divulguei esta ideia. Que considero fundamental levar a cabo.
É sabido que o Estado despende centenas de milhões de contos com os múltiplos alugueres de instalações dispersas por Lisboa, que destina aos inúmeros serviços ministeriais – e outros – e que os contribuintes têm de procurar encontrar para tratar os mais diversos assuntos. Isso, para não falar dos edifícios que são propriedade estatal e que também se espalham por toda a capital.
Ora, tomando como exemplo Espanha, que tanto está na moda apontar como ponto de comparação, importa referir que existe em Madrid um chamado Bairro dos Ministérios – criado no tempo de Franco, imagine-se !
E o que é esse tal Bairro ? Nem mais nem menos do que um aglomerado, numa só zona, de todos os serviços ministeriais e adjacentes que, bem servido por uma rede de transportes públicos de todas as espécies, incluindo o metropolitano, com um parque de estacionamento de enorme capacidade, oferece aos cidadãos a possibilidade de resolverem os seus problemas que digam respeito aos serviços públicos e até mesmo a instituições que sejam dependentes de participações estatais.
Propor que se comece a pensar na construção em Lisboa de um similar Bairro dos Ministérios será pedir excessivamente a quem venha a instalar-se no pelouro máximo do Governo, seja lá quem for ?
Será preciso explicar a enorme economia que tal representaria para os dinheiros públicos, por muito grande que seja o investimento necessário (mas o que é isso comparado com o que custou a Expo 98 e o que vai custar o Euro 2004 ?), para além da comodidade e da diminuição drástica de gastos da população cada vez que tem de se deslocar de um para outro sítio para ultrapassar a burocracia que também está instalada com raízes no nosso País ? É evidente que ninguém necessita de todos os pormenores sobre as vantagens da referida realização.
Mas, para além do termo dos alugueres de locais onde existem dependências oficiais e do encaixe de muitos milhões que representaria a venda de todas as propriedades do Estado, o que baixaria substancialmente o investimento com a construção do Bairro dos Ministérios, haveria que tomar uma decisão, bem difícil, por certo, dado ir tocar nas mordomias de muitos que são “servidores do Estado”, e que consistiria numa operação de mãos limpas que muito honraria um Governo que tivesse a coragem de dar tal passo. Trata-se da criação de um serviço, ao nível de direcção-geral e dependente directamente do primeiro-ministro, que tivesse a seu cargo a distribuição de viaturas para uso dos funcionários superiores que tivessem direito a tal regalia.
Com excepção dos ministros e dos secretários de estado, todos os restantes servidores públicos deveriam ter de requisitar uma viatura e o motorista que estivesse disponível para efectuar o transporte que fosse considerado. Quer dizer, acabavam os desperdícios que se verificam ainda hoje e que resultam de terem à porta de várias repartições as viaturas de “Suas Senhorias” estacionadas e o motorista exclusivo a aguardar ordens (quando não têm de fazer depois horas extraordinárias !...).
Imagine-se o que seria necessário de valentia de um Governo que instituísse esta forma de economizar milhões de contos por ano, despendendo-os, isso sim, em favor da saúde, da educação e até mesmo do rejuvenescimento dos tribunais, pois são também estes últimos que constituem um sorvedouro dos impostos pagos pelos contribuintes, em virtude de se encontrarem completamente ultrapassados na sua forma de actuar e, com as demoras, custarem fortunas a toda a gente…e ao Estado.
Perguntar-se-á, evidentemente, onde é que poderia ficar instalado o Bairro dos Ministérios de Lisboa. E aí, a resposta não é fácil. Recordar-se-ia que já existiu um espaço que estava mesmo à medida para erigir os múltiplos edifícios ministeriais: aquele onde se construiu a Expo 98. Com os mesmo milhões que se gastaram nessa demonstração de vaidade num país que precisa, em primeiro lugar, de tratar dos seus habitantes e só depois, muito depois, mostrar-se aos de fora, com tudo isso e o que se acumulou de prejuízos existiria já hoje o Bairro dos Ministérios. Mas o que lá vai, lá vai…
Como ainda há espaços em Lisboa onde se poderá demolir o que está velho e caduco, como infelizmente ainda restam muitos locais onde faz dó ver o que por lá existe, será apenas uma questão de opção e de vontade política.
É preciso, para já, um novo aeroporto internacional ? Não pode esperar algum tempo a terceiras ponte a atravessar o Tejo em Lisboa, por muito necessária que ela seja ? Ainda que a segurança não possa ser abandonada , temos meios para desviar, de imediato, avultadas verbas nas Forças Armadas ? E os tais novos estádios de futebol, cujo custo está avaliado em vários milhões de contos (ou em euros, como queiram), será assim tão vergonhoso declarar a nossa impossibilidade financeira para tal fim ?
Sendo assim, resta fazer a última pergunta: teremos alguma vez a felicidade de ter um governo que arregace as mangas… e FAÇA ?
Sonhar não custa !....



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