sábado, 30 de abril de 2011

VELHOS E NOVOS PAÍSES



OS NOSSOS MAIS DE OITO SÉCULOS de História são evocados frequentemente como motivo para reforçar as acções que tomamos em determinados momentos, como quem tem de se dar sempre razão a quem é velho apenas e só por essa circunstância. Como Portugal passou pelas mais variadas situações e delas, melhor ou pior, lá prosseguiu a sua existência, cada vez que temos pela frente um problema ainda que com gravidade acentuada logo toca o sino da longevidade para animar os sofredores de que, desta vez, também sairemos airosamente e caminharemos em frente. É uma forma muito lusitana de arredar asa dores e as aflições.
Na fase que atravessamos cá nos encontramos nós perante mais um período em que a solução para sairmos de um aperto que as circunstâncias nos criaram e os optimistas garantem que um País não desaparece assim e que, desta vez tal como das outras, continuaremos a seguir a nossa vida e, melhor ou pior, Portugal manter-se-á a acumular anos sobre a sua longa permanência.
O caso que tem sido tão falado nos últimos tempos da atitude tomada pelos islandeses para se conseguirem libertar das consequências de uma crise que suplantou a maioria das aflições por que passaram e ainda passam (vide o que ocorre connosco) tantas nações em diferentes partes do mundo, mas especialmente na Europa, o que um País com apenas 67 anos de idade – pois tornou-se independente da Dinamarca em 1944 – tem vindo a fazer naquela ilha friorenta lá no alto do Continente deveria ser estudado de forma profunda por todos nós que, aqui neste rectângulo, falamos demais e actuamos sempre de maneira curta.
Logo após a falência dos bancos islandeses e sem dinheiro do Estado para os salvar, foi logo criada uma Comissão Especial de Inquérito, cujo objectivo foi o de destapar todas as acções que foram as causadoras da situação a que chegaram e denunciar os compadrios que retiveram na origem nas corrupções, nos buracos negros de muitos milhões de euros, na pobreza e no desemprego. E, dois meses depois de terem aparecido os primeiros sinais dos efeitos da crise, logo se foi tomando conhecimento dos autores e dos responsáveis principais pelas ocorrências e um grupo formado apenas por seis elementos, todos competentes, logo foi vasculhada toda a história dos banqueiros mal comportados, das fortunas suspeitas de terem saído das criminosas actuações de uns tantos, dos responsáveis políticos que não foram capazes de usar os seus poderes para pôr ponto final numa situação que merecia ser devidamente condenada.
O relatório que foi posto à disposição dos islandeses, feito em apenas seis meses, deu conhecimento à população do que se tinha passado e foi daí que a Islândia começou a dar os passos que foram considerados indispensáveis para tirar o País do a fogo em que se encontrava. E foi a partir daí que toda a população, dando as mãos, pondo de lado preferências ideológicas na política, reescrevendo uma nova Constituição e reforçando a República instituída, tem vindo a conseguir melhorar o que dava mostras de não ter remédio. E, claro, os responsáveis têm vindo a ser obrigados a prestar contas.
Não acrescento o muito que há a referir no que respeita à actuação de um País que, encontrando-se lá nos altos da Europa, sem História para se gabar, tem constituído um exemplo que a mundo deveria aplaudir.
Não me permito fazer comparações. Tenho pelos velhos o maior respeito e os que deixam boa obra merecem ser recordados e acarinhados. Mas o que não podem é teimar em cometer os mesmos erros e não ser capazes de reconhecer que, por vezes, a idade cansa e provoca alguma teimosia que deve ser posta de lado para dar lugar a ideias novas que, também elas, resolvem problemas de acordo com as técnicas actuais.
Seria bom que algumas cabeças pensantes do nosso País fossem estudar na Islândia o que pode um País com menos de um século ensinar aos velhos.

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