sábado, 16 de abril de 2011

IMAGINAÇÃO


PONHO-ME, COM FREQUÊNCIA, A IMAGINAR o que poderia acontecer em determinadas situações. E isso ocupa todo o meu poder de tentar encontrar soluções para os mais complicados problemas. Vejam lá o que me deu, um dia destes, e que foi o de, nesta altura em que temos cá instalados os técnicos representantes da Troyka, admitir que se operava um milagre no nosso País e que todos os problemas das dívidas que pesam sobre as nossas costas estavam a ser resolvidos. Pois foi tanto como isto: que uma mão benévola de que nem se sabia a existência, tinha chamado a si o pagamento a todos os credores, reduzindo a zero a dívida que será de muitos milhares de milhões. Quer dizer, de um dia para o outro éramos surpreendidos pelo crédito das nossas contas completamente limpo, passando a dispor, a partir dessa altura da maior liberdade em conduzir o nosso destino sem as mínimas obrigações de enfrentar os credores. Quer dizer, dívidas não existiam, mas a forma de produzirmos activos, de nos abastecermos a nós próprios, de sermos auto-suficientes e, se possível, até excedermos o montante do que produzíssemos em relação àquilo que tivéssemos que adquirir fora das fronteiras, esse ideal não foi atingido pela minha imaginação. Assim sendo e estendendo esse lindo sonho para uma distância maior no futuro, como éramos forçados a ir buscar a outros mercados tudo o que faltava na nossa produção, a pouco e pouco formo acumulando novos empréstimos, dado que a ânsia em mantermos uma boa vida e o apetite em podermos assistir a novas inaugurações do que não seria absolutamente necessário mas que dava certo conforto à vista, o que ocorria para lá da referida imaginação era outro espectáculo de, a pouco e pouco, irmos acumulando dívidas novas que o tempo diria como se poderiam resolver. O que eu quero dizer com isto é que, sem ser necessária qualquer imaginação, basta que nos limitemos a encarar a realidade dos nossos dias. Vamos todos apertar o cinto até ao limite máximo da nossa magreza. Levando os anos que levar e que não vão ser poucos, lá conseguiremos saldar as nossas contas e atingiremos um dia, lá bem longe, o ponto morto dos compromissos. Mas como, entretanto, não fomos capazes de desenvolver a nossa produção, porque, acima de tudo e dos políticos que tomarem conta do poder, todos nós somos portugueses, mantendo-se o mar por produzir, a agricultura por dar o seu máximo, a indústria a manter-se encolhida e as pequenas empresas a lutarem contra a inflamada burocracia, que essa nunca deixará de estar atenta só para chatear, o romance ameaça ir-se repetindo pela vida fora. Aquilo que eu tenho repetido vezes sem conta, ainda que me acusem de falta de patriotismo (apenas porque pretendo dizer as verdades), e que é o não se ver o discurso que é preciso ir repetindo sucessivamente, procurando atingir, sobretudo, a juventude, mesmo a escolar, e que é o apelar a todos para que encarem a realidade que é a de sermos capazes de aumentar, cada um de nós, o produto do nosso trabalho, seja ele qual for, se não for encarado com a maior ausência de complexos e com a humildade que nos é essencial para reconhecermos os nossos erros, se isso não suceder, daqui a vinte anos, alguém, que não eu, estará a repetir este apelo e a olhar para o umbigo, dessa vez bastante reduzido porque a ausência de comida a tal obriga.

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