domingo, 3 de abril de 2011

HUMILDADE


ESTÁ DECIDIDO. Os políticos profissionais já estão libertos de responsabilidades. Com as eleições já marcadas, quem fica com as culpas pela escolha é o Zé Povinho, esse infeliz que acaba sempre por pagar as favas. Agora, o que sair das urnas deixa os responsáveis pelo panorama medonho que foi criado por aqueles que, na altura, tinham o poder para decidir o que se ia passar a seguir, a soma dos votos indicará a constituição do Governo que for empossado e libertará os anteriores de culpas, pois a água é sacudida do capote com o maior descaramento. Este o resumo de uma observação que, nesta altura, pode ser feita. Nem vale a pena chorar sobre o leite derramado. Por palavras simples e sem pretensões de intelectualizar um texto que não vai acrescentar nada ao que é a realidade em que vivemos. Basta escrever assim. O Presidente da República, com alguma ingenuidade mas cumprindo naturalmente a sua obrigação, limitou-se a pedir contenção nos confrontos que irão ocorrer durante a campanha que se perfila. Como se isso fosse possível! Não vale a pena criarmos ilusões. Haverá alguém que acredite nisso? Seria uma verdadeira revolução no comportamento do ser humano se viéssemos a assistir a umas eleições em que todos os participantes dessem as mãos e mostrassem que o interesse nacional afastava todas as ânsias de cada um querer ser mais importante do que os seus concorrentes. Todos – e alguns excedendo-se mais do que seria aceitável – colocam o seu “eu” acima do conjunto, do “nós” que nunca deveria ser esquecido por quem representa grupos, e, nos bicos dos pés, não têm vergonha de se salientar, como se fossem os melhores, os indiscutíveis, os únicos… Não se assistirá, podem crer, ao mais pequeno sinal de modéstia, a uma demonstração de dúvida, a uma expressão de possível engano. Todos surgirão com certezas absolutas e com acusações de que os outros só cometem erros. Esta é a minha convicção, dada a pouca confiança que deposito no ser humano em geral. E ainda me interrogo mais profundamente sobre se haverá capacidade de encontrar uma forma de liquidar uma parte da dívida que cai precisamente sobre a data em que começará a vigorar o novo período governativo e em que há que “desenterrar” cerca de onze mil milhões de euros, montante que os credores aguardam que sejamos capazes de entregar a quem devemos. No que diz respeito a prometer o impossível, provavelmente, se surgisse um concorrente que desse mostras de humildade, que confessasse a sua pouca sapiência, que não escondesse a sua diminuta confiança em acertar com as soluções ideais para orientar o nosso País na direcção mais correcta para poder sair da situação gravíssimas em que se encontra, se essa figura existisse o mais natural é que os votantes não depositassem nele a sua preferência. E isso porque os cidadãos gostam de ser enganados, de ouvir promessas que são quase impossíveis de cumprir, de se iludir. Por isso, as lutas e as afrontas que são feitas entre todos agradam aos que têm o dever de escolher. Portugal encontra-se na situação económica, social, financeira e, portanto, social, que ultrapassa todos os maus momentos que alguma vez atingiram este País. Atravessa-se uma altura fulcral da nossa existência. Logo, o ideal seria que todos os candidatos a ocuparem uma posição que lhe confira a possibilidade de governar, só ou em coligação, procurassem encontrar acordo de objectivos, pondo de parte princípios ideológicos, posto que o principal é salvar o nosso País e não teimar em manter princípios políticos. Mas alguém acredita que o CDS, por exemplo, será capaz de pôr-se de acordo com o PCP? E que o Bloco de Esquerda encontrará afinidades com o PSD? E que qualquer destes e doutros terão capacidade para arrecadar aquilo que dizem ser as suas ideologias e colocar sobre a mesa somente a salvação de Portugal? Se há quem tenha essas esperanças, pois que as vá mantendo para seu contentamento, mas não fique depois desiludido se o resultado não for de molde a constituir uma resposta satisfatória nesta fase específica da nossa vida. É evidente que um País não desaparece do mapa, por muito complicado que seja o estado em que se encontre. Mas, mesmo assim, não é fácil prever um futuro aceitável se não se operar uma solução, milagrosa ou não, mesmo que ela seja originária de uma actuação externa, como poderá ser a que vai ocorrer. Afinal, sempre deixo uma saída…

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