sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

SE EU FOSSE UM HOMEM RICO!

Hoje estou num desses dias
com ganas de fazer nada
todos nós temos manias
ou gosto pela vida airada
tenho livros para ler
mais de dez na escrivaninha
pinturas para fazer
mas caí nesta morrinha
é preguiça
enfermiça

Olho só, mas nada vejo
nem isso quero fazer
tudo me causa bocejo
mas que maçada viver
e falar não é comigo
que trabalho isso me dá
andar também não consigo
dar uns passitos vá lá
mandriice
que lesmice
vou falando com quem passa
poesia escreverei
mirarei a mulheraça
e tudo que sei farei
com vontade
e qualidade
Postas as coisas assim
parando para pensar
ponho esta questão a mim
em prosa ou a versejar
pode-se ser mais feliz
estando atento à nossa volta
e sendo sempre juiz
ou seguir na vida à solta
divertido
extrovertido?

Boa questão está no ar
que responda quem souber
cada um faça o que achar
o que mais lhe aprouver
porém o mundo não deixa
que cada qual faça a escolha
pois muita porta se fecha
quem anda à chuva se molha
aguenta
que tormenta

Sendo pobre, coisa má
mais difícil a opção
não há por perto o sofá
e p’ra dormir há o chão
por isso não fazer nada
não é escolha para ter
e andar na vida airada
não é questão de querer
o trabalho quando falta
sem ser por própria vontade
mesmo doente com alta
não dispõe de liberdade
desemprego
desassossego

Comigo não é assim
não sou pobre nem sou rico
é só por não estar afim
não quero e nem abdico
já nesta altura da vida
de ser de outra maneira
o momento é que convida
seja certo ou seja asneira
dolência
independência

Não posso ser mentiroso
pôr em questão meus desejos?
É que dá certo gozo
fingir que tenho bocejos
não, nunca estou desse modo
no “dolce fare niente”
por mim nunca me incomodo
na posição de ausente
é que tenho consciência
de que o tempo que me falta
me desperta a exigência
de não m’entregar à sesta
essa a razão por que faço
esforços p’ra produzir
e afugento o cansaço
em troca do insistir
teimosia
rebeldia

Estou num dia portanto
ao contrário do que disse
em que p’ra dentro canto
não vejo nisso chatice
acrescento mais poemas
ao rol imenso em arquivo
são quase todos algemas
que eu deixo em donativo
aos que ainda cá ficarem
nada têm de nocivo
mesmo sem apreciarem
testamento
sem talento

Só se for rico
o mafarrico

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