sexta-feira, 26 de novembro de 2010

COPO MEIO CHEIO


HÁ COISAS QUE PARECEM só ser possível que aconteçam em Portugal. Porque nós temos o costume de provocar discussão sobre todas as matérias que põem em contraponto modos de ver opostos, impondo as nossas razões àquelas que são defendidas pelos adversários. Mesmo que a verdade não se encontre em nenhum dos lados. Foi o que se passou logo a seguir à tal greve que paralisou grande parte do País e em que os sindicalistas dizem ter sido participada por 3 milhões de portugueses e o Governo afirma estar muito longe desse número. É a história conhecida do copo meio cheio e meio vazio.
Seja qual for o número que se possa considerar verdadeira, o que se verificou e que principalmente Lisboa sentiu profundamente na pele, foi uma enorme dificuldade em concretizar actividades que estavam programadas por aqueles que não tinham motivo para participar na paragem do trabalho, ou porque não aderiram ao apelo sindicalista ou porque a sua vida na área profissional não se enquadra no campo do trabalho - desempregados ou reformados. Isso, para não se referir os que aproveitaram a oportunidade que lhes foi proporcionada para permanecerem comodamente refastelados nas suas casas, sobretudo se se trataram de funcionários públicos que sabiam de antemão que as suas repartições não abririam as portas. E também daqueles que, antevendo a dificuldade em utilizar transportes públicos para se deslocarem ao serviço, nem deram um passo para o sítio habitual do embarque, servindo essa desculpa para aumentarem o número propagado dos grevistas.
Quantos foram, realmente, esses é que ninguém está em condições de apresentar um número ou uma percentagem. Mas que fizeram parte do grupo que se classifica do lado dos faltadores ao trabalho e, portanto, se incluem na parte do copo parcialmente cheio, sobre isso não pode haver dúvidas. E também, pouco importa classificar com rigor onde devem ser colocados os que não estiveram a cumprir a sua obrigação profissional, dado que, em maior ou menor percentagem, o que faz reflectir é a situação de perigo que o nosso País atravessa e de um futuro que será de consequências imprevisíveis, mas que, apesar disso, não impede que os homens que sempre desejam colocar-se nas montras dos acontecimentos tirem partido pessoal ou de grupo das suas acções.
Não hesito sequer em dar visibilidade à minha posição de adversário de qualquer tipo de paralisações laborais numa altura em que o que é absolutamente necessário é aumentar a produtividade a todos os níveis e em todas as áreas do nosso País. Nas fábricas, na agricultura, nos serviços, no sector público e privado. Não podemos dar-nos ao luxo de fingir que contribuímos para o aumento de resultados visíveis naquilo que cada um de nós faz. Se sempre estivemos longe de acompanhar os níveis mais produtivos de outras partes do mundo, se, na verdade, nunca primámos por ser exemplares não só na produtividade como também na sapiência em colocar nos mercados aquilo que fomos capazes de extrair das nossas mãos, neste momento concreto em que nos encontramos fomentar qualquer tipo de greve, tanto mais que o resultado que poderá ser obtido, como reivindicação por um desagrado face ao às forças públicas, será absolutamente nulo, não tem efeitos positivos de nenhuma espécie.
Se se impõe como necessidade fulcral que o Governo de Sócrates saia de cena ou se, como remendo mais exequível, se proceda a uma remodelação da equipa actual, pelo menos enquanto não existirem condições para, sem pânico exterior, se verificar que o caminho certo para solucionar os nossos problemas está a ser encontrado, então que para isso se façam as pressões que forem julgadas mais convenientes, mas nunca através de paralisações de trabalho dos portugueses, essa atitude compreende-se e é até desejável. Mas, ao mesmo tempo, o que se torna indispensável incutir no espírito de toda a população portuguesa é a atitude de produzir cada vez mais, melhor e depressa, porque o atraso que levamos e a situação periclitante que atravessamos não nos dá outra alternativa.
E esta recomendação serve igualmente aos dirigentes sindicais, a esses que tendo a sua actividade profissional garantida devem reflectir um momento no que é melhor para o Portugal que é de nós todos.

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