quinta-feira, 28 de outubro de 2010

DÁ DEUS NOZES...


NÓS SOMOS ASSIM e sempre o fomos desde que foi criado este País e mesmo na altura em que fizemos tantas descobertas por esse mundo fora e em que não soubemos tirar partido dos enormes tesouros que por lá havia, excepto no caso do Brasil em que o rei D. João V se esmerou em mandar vir o ouro que chegou até para construir o Mosteiro de Mafra. De resto e chegados aos nossos dias, com as centenas de milhar de compatriotas que tinham a sua vida estabelecida nas então colónias, não tirámos o menor proveito de tal realidade, tendo mesmo, quando se deram as independências desses territórios, que suportar e ajudar os também milhares de nacionais que, forçados a abandonar tais paragens, desembarcaram no rectângulo nacional, que muitos até nem conheciam por serem já naturais dos sítios para onde os seus ascendentes se tinham transferido, com uma mão à frente e outra atrás.
Não se trata de sermos muito benévolos no que respeita ao não aspirarmos em aumentar os nossos benefícios com o que podemos trazer de outros locais. Nisso, colonizadores – que não descobridores – como foram os ingleses, os holandeses, os belgas e os franceses, entre outros, não nos podemos comparar nem de longe. A nossa língua deixámos, não por imposição mas porque o relacionamento dos portugueses com os indígenas de cada localidade, foi conseguido através de grande aproximação e até intimidade – e, em relação aos pretos, assim apareceram os mulatos – o que ocasionou uma expansão da lusofonia que, sobretudo no Brasil, atingiu a posição de língua oficial. Mas mais do que isso não soubemos aproveitar. E se, nesse particular, constitui uma crítica, também é certo que representa uma inegável atitude de não aproveitar os menos desenvolvidos para lhes sacar o que seria proveitoso neste nosso cantinho lusitano. Os colonizadores acima referidos não tiveram idêntico comportamento e, no caso dos ingleses, a sua a língua foi imposta e, como sucede, por exemplo, na Índia, em que, para benefício próprio, ou os nativos falavam inglês ou não comiam…
Bem, mas adiante. O que valerá a pena referir é o que nos caracteriza de não termos o mínimo de habilidade para aproveitar o que as circunstâncias põem à nossa disposição. Isso sucedeu em vários período da nossa vida como País, o perdermos sucessivamente oportunidades que muito auxiliariam a prestar bom serviço a uma Nação sempre a lutar com dificuldades ao longo da sua História. E, sem ir mais longe, basta referir-se agora o que sucedeu e continua a suceder na ajuda que o chamado Mercado Comum tem tido possibilidade de nos proporcionar e em que desperdiçamos de forma infantil tais apoios. Para a agricultura, por exemplo, assim como no que se refere à pesca, os dinheiros que nos foram enviados, em lugar de terem servido para melhorar e aumentar as produções, pelo contrário foram destinados para favorecer uns tantos “espertos” que, como sempre existem por aí, logo se aproveitam para tirar partido das situações que os podem beneficiar.
E agora, precisamente numa altura em que tanto necessitamos de encontrar forma de aumentarmos sensivelmente o nosso fraco poder produtivo, ao ser divulgado que existem, no “offshore” algarvio reservas de gás natural que, por sinal, até são 20 vezes maiores do que as idênticas na costa espanhola e a sua exploração reduziria a factura energética de Portugal em mais de 1.000 milhões de euros por ano, tendo uma empresa americana perfurado um poço em que foi confirmada a existência de gás natural, tendo o Governo lançado há dois anos um concurso para a exploração de dois blocos na costa algarvia, em que os espanhóis da Repsol venceram, aguarda-se que seja assinado o contrato para se poder iniciar a exploração.
Alguém entende isto? Por muito que exista o receio de o turismo poder ficar prejudicado com a referida exploração, pelo eventual risco de se produzir uma Mara negra (situação que é negada pelos técnicos, tanto mais que o gás nunca conduz a tal situação), só a possibilidade assegurada pelos que sabem destas coisas de que as perspectivas de extracção do referido gás asseguraria o consumo do nosso País ao longo de 15 anos bastaria para que, face à situação económica e financeira nacional, não se devesse hesitar em deitar mão desta oportunidade.
A quem se pode pedir uma explicação deste estado contemplativo em que permanentemente nos colocamos?
Vamos ficar sem tomar as medidas que se impõem para que não fique debaixo de água o gás natural que se descobriu na nossa zona marítima?
Se fosse apenas isto que representa a nossa moleza em sairmos do marca-passo já nos poderíamos conformar. Mas não. Há muito mais. Muito mais!...

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