segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


NAS MINHAS frequentes passagens por livros já lidos noutras alturas, alguns bem digeridos, voltei um dia destes a pegar numa obra de Camilo José Cela, o Prémio Nobel de Literatura, espanhol, que usava uma linguagem livre, apaixonada, erótica, e a que alguns chamaram de desbragada. De facto, o autor também de um Dicionário de Erotismo, deixou uma obra em que não escondia a pretensão de chamar as coisas pelos seus nomes. Os nomes que ele lhes dava.
O único problema para quem não domina a língua castelhana, é que os seus escritos perdem toda graça e “salero” se não são lidos no idioma de origem, pela infinidade de frases e termos castiços que o autor utilizou a miúdo nos seus livros. E que não são facilmente traduzíveis.
Peguei agora num título seu, chamado no original “Cachondeos, escarceos y otros meneos”, de quase impossível tradução em qualquer língua, e deixei ficar na estante outro que adquiri há anos e que tem também um título muito sugestivo “Izas, rabizas y coliputerras” este dedicado às prostitutas de Barcelona, das Ramblas.
Por cá, mesmo recordando Bocage que utilizou, por vezes, uma linguagem também agressiva e popular, serão raros os autores que poderão assemelhar-se a Camilo José Cela, que foi membro da Academia da Língua do País vizinho e foi reconhecido com vários galardões de Espanha.
Porquê, então, eu me refiro, nestes meus desabafos, a um novelista, poeta e ensaísta que, não sendo muito popular entre nós, atingiu tão alto gabarito em todo o espaço de “habla castellana”?
Porque, numa altura em que se afirma por aí – alguns com evidente insatisfação - , que os espanhóis estão a entrar no nosso território, e sendo evidente que o idioma vizinho está agora a ganhar importância nos estudantes portugueses, especialmente porque certas universidades espanholas estão a receber alunos que vão daqui, já era altura de as edições dos dois lados vizinhos encontrarem forma de alargar as tiragens, com um mercado que aumentaria, espacialmente com nítida vantagem para as editoras portuguesas, que ganhariam visível subida de tiragens.
Mas esta afirmação é quase que uma blasfémia para muitos “aljubarrotistas” que ainda existem por aí. Há que esperar pelo caminhar natural das coisas, para que, a exemplo do velho Benelux, também possa surgir um dia uma Ibéria.
O futuro ditará as suas leis. E quem for vivo então, poderá verificar se se justifica que os velhos do Restelo continuem a proclamar que “mais vale só do que mal acompanhado”

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