segunda-feira, 23 de agosto de 2010

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


SE ANALISO o País que me calhou em sorte ser onde nasci e me confundo com a multidão para obter os serviços que a administração pública tem de proporcionar, mesmo ou sobretudo com a má vontade dos funcionários, pelo menos uma boa parte, deparo com as razões ou parte delas por que Portugal está tão atrasado em relação ao resto da Europa. E faço sempre o mesmo raciocínio: se esta situação mudar, vai levar tanto tempo que não acontecerá durante o resto da minha existência. Temos enraizado o gosto pelo complicado, pelas dificuldades que provocamos uns aos outros; se depender de nós tudo faremos para castigar quem aguarda pela nossa boa vontade.
Dizem, com ar sabedor, os que se conformam: as ordens vêm de cima! Mas, mesmo sendo assim, pelo meio os portugueses vão acrescentando ainda mais problemas aos que as instituições oficiais já por si estabelecem. Acabar com os carimbos, os triplicados, o preenchimento de impressos extensos, complicados e com perguntas desnecessárias, terminarem as filas perante um funcionário super-escrupuloso que não dá mostras de ter pressa e que sempre pede mais um papel que falta, tudo isto faz parte das vias-sacras dos naturais deste País, deixando a impressão de que se as coisas por cá fossem fáceis esta terra não teria graça nenhuma.
Perder uma manhã ou até um dia inteiro para conseguir resolver os castigos burocráticos, faltar ao trabalho produtivo por tal motivo, essa missão corresponde à sina de um verdadeiro português da silva. Como constitui um preceito deixar sempre para o último dia o que teve para fazer sem pressas durante largo tempo. Mas, afinal, não farão parte estas normais anormalidades da felicidade de um povo?
É isto que me faz pensar. Se, por artes mágicas, passassem os portugueses, de um dia para o outro, a ter tudo facilitado, a, por exemplo, como já acontece em Espanha e noutros países, ter um só número de cidadão que constasse em todas as dezenas de cartões de que tem de ser portador para provar quem é e, num simples segundo, poder ser atendido em qualquer serviço do Estado utilizando essa máquina hoje tão corriqueira que é o computador, se já acontecesse isso hoje entre nós tornar-nos-íamos mais felizes? Então o engraçado, o característico, o típico não é mantermos os hábitos ancestrais, os que vêm de épocas remotas, esses que os árabes solidificaram nesta Terra em que o fado, por mais que o modernizem, se conserva com um fundo mastigado de tristeza? Não será essa rotineirice que agrada a este povo que tanto medo mostra das mudanças?
Por isso, o ronceiro e lesma carro eléctrico, ao mesmo tempo tão prático por bastar conhecer-se os números das carreiras para se ser conduzido aos destinos dentro da cidade, o “amarelo” que obriga, por vezes, a formar longas filas à espera do próximo que, depois, não vem só um mas dois ou três seguidos, esse meio de transporte não pode desaparecer, por mais que avance a modernidade dos meios de transporte. As subidas e descidas para a Graça, para Campo de Ourique, para o alto da Ajuda não seriam as mesmas sem tais meios de transporte. Desde que surgiram no seu século e até hoje pouco mudaram. Só o custo dos bilhetes!...

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