
NESTE PAÍS DE DOUTORES, em que quem não seja tratado com um título académico não merece o respeito público e até se procura divulgar essa condição, autêntica ou falsa, para que, à frente de toda a gente, seja tratado por “senhor doutor”, já tanto faz que os presumidos tenham de facto frequentado um curso superior, pois que, na época actual, essa condição não representa que o indivíduo em causa tenha aprendido alguma coisa para além do que a maioria sabe.
Devo esclarecer convenientemente esta afirmação. É que, como é sabido, muitos dos ensinos que a juventude de hoje tem seguido são, como um diário recentemente classificou, “cursos de treta”. A engenharia, por exemplo, quando era ministrada apenas no Instituto Superior Técnico, de Lisboa, nas suas várias especialidades, representava a garantia de se conseguir um saber com base sustentável, fruto dos cem anos de ensino exigente que ali sempre se praticou. Hoje em dia, existem 526 cursos de engenharia em todo o País, com licenciaturas e mestrados, o que é evidentemente excessivo e não presta a menor garantia de que os “engenheiros” saídos dessas “fábricas” não estarão à altura das exigências de uma profissão com tanta responsabilidade como até a evolução da tecnologia requer. Aliás, será caso para perguntar se os inúmeros erros que se têm verificado – ver o caso do túnel DO Terreiro do Paço, por exemplo - não será consequência do pouco escrúpulo que existirá nos cursos relâmpago que existem por aí.
Mas esta situação ocorre em muitas outras áreas do ensino superior. No sector da Economia, por exemplo, que era antes uma carreira que, na maioria dos casos, vinha das Escolas Comerciais e depois passando pelo Instituto Comercial, saindo daí para o ISCEF (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras), onde se seguia para Economia ou para Finanças, bastantes dos ainda actuantes nesta área são provenientes de tais fornadas – e eu falo por experiência própria, embora não tivesse aproveitado os ensinamentos conseguidos, por preferir o jornalismo -, tal aprendizagem era conseguida com a maior exigência por parte dos professores, havendo que cumprir horários rígidos e os “chumbos” também surgiam por mais de dez ausências ao longo de um ano (o que era preciso “chorar” aos mestres para retirarem as faltas que a necessidade de trabalhar muitas vezes provocava!). Hoje, tendo acabado o ensino profissional (o comercial e o industrial), coisa que antes não sucedia, pois só através da passagem pelos liceus é que se podia seguir para outras faculdades, o que muito me contrariou, talvez se note um menor conhecimento prévio das áreas que têm a ver com as actividades que têm ligação ao sector comercial e industrial.
Em resumo, pois. A negociata que surgiu no sector do ensino, tudo com as aprovações dos diferentes governos que tomaram o comando das operações, em lugar de proporcionar um aumento de conhecimentos nas gerações que preencheram o espaço após a Revolução, o que provocaram foi uma avalancha de “doutores” e “engenheiros” que, devido até à crise que se instalou, fazem parte em grande número dos desempregados portugueses.
Nos países onde a classificação de doutor é só atribuída aos médicos e isso como profissão e não como classificação social e em que todos os restantes são apenas o “senhor tal” e não com qualquer prefixo indicativo de situação privilegiada na sociedade, aí o que interessa, da facto, são os conhecimentos que foram obtidos nas escolas e não o “canudo” que é apenas sinal de vaidade.
Eu não me canso de repetir aquilo que tenho escrito em diversas ocasiões e que, não consistindo a solução de tudo é, pelo menos, uma enorme preparação para um futuro de que tanto Portugal necessita. Repito: a instituição nas escolas primárias (insisto em usar esta denominação) de uma classe de Democracia, em que a pequenada aprenda a saber ouvir, a responder só na altura certa, a respeitar a opinião dos outros, mesmo que seja diferente da sua, a pensar antes de falar e, sobretudo, a entender que a sua Liberdade termina onde começa a dos outros, essa aprendizagem é fundamental para ir formando as gerações futuras. Defendo o princípio de que o comportamento desses alunos e futuros cidadãos passaria a não necessitar de “doutoramentices” para marcar as suas posições profissionais. Numa Nação como a nossa, com apenas três dezenas de anos de prática democrática, com as enormes diferenças sociais que se mantêm e ainda com uma enorme percentagem de iliteracia na população, dar esse passo enquanto, na área da política, os antigos continuam a agredir-se mutuamente e nada avança que torne o nosso País mais próximo da Europa, preocuparmo-nos com o ensino da prática democrática e isso logo na altura das primeiras letras, essa via proporcionar-nos-ia abandonarmos os complexos dos doutores de tudo e, especialmente, do nada!...
Devo esclarecer convenientemente esta afirmação. É que, como é sabido, muitos dos ensinos que a juventude de hoje tem seguido são, como um diário recentemente classificou, “cursos de treta”. A engenharia, por exemplo, quando era ministrada apenas no Instituto Superior Técnico, de Lisboa, nas suas várias especialidades, representava a garantia de se conseguir um saber com base sustentável, fruto dos cem anos de ensino exigente que ali sempre se praticou. Hoje em dia, existem 526 cursos de engenharia em todo o País, com licenciaturas e mestrados, o que é evidentemente excessivo e não presta a menor garantia de que os “engenheiros” saídos dessas “fábricas” não estarão à altura das exigências de uma profissão com tanta responsabilidade como até a evolução da tecnologia requer. Aliás, será caso para perguntar se os inúmeros erros que se têm verificado – ver o caso do túnel DO Terreiro do Paço, por exemplo - não será consequência do pouco escrúpulo que existirá nos cursos relâmpago que existem por aí.
Mas esta situação ocorre em muitas outras áreas do ensino superior. No sector da Economia, por exemplo, que era antes uma carreira que, na maioria dos casos, vinha das Escolas Comerciais e depois passando pelo Instituto Comercial, saindo daí para o ISCEF (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras), onde se seguia para Economia ou para Finanças, bastantes dos ainda actuantes nesta área são provenientes de tais fornadas – e eu falo por experiência própria, embora não tivesse aproveitado os ensinamentos conseguidos, por preferir o jornalismo -, tal aprendizagem era conseguida com a maior exigência por parte dos professores, havendo que cumprir horários rígidos e os “chumbos” também surgiam por mais de dez ausências ao longo de um ano (o que era preciso “chorar” aos mestres para retirarem as faltas que a necessidade de trabalhar muitas vezes provocava!). Hoje, tendo acabado o ensino profissional (o comercial e o industrial), coisa que antes não sucedia, pois só através da passagem pelos liceus é que se podia seguir para outras faculdades, o que muito me contrariou, talvez se note um menor conhecimento prévio das áreas que têm a ver com as actividades que têm ligação ao sector comercial e industrial.
Em resumo, pois. A negociata que surgiu no sector do ensino, tudo com as aprovações dos diferentes governos que tomaram o comando das operações, em lugar de proporcionar um aumento de conhecimentos nas gerações que preencheram o espaço após a Revolução, o que provocaram foi uma avalancha de “doutores” e “engenheiros” que, devido até à crise que se instalou, fazem parte em grande número dos desempregados portugueses.
Nos países onde a classificação de doutor é só atribuída aos médicos e isso como profissão e não como classificação social e em que todos os restantes são apenas o “senhor tal” e não com qualquer prefixo indicativo de situação privilegiada na sociedade, aí o que interessa, da facto, são os conhecimentos que foram obtidos nas escolas e não o “canudo” que é apenas sinal de vaidade.
Eu não me canso de repetir aquilo que tenho escrito em diversas ocasiões e que, não consistindo a solução de tudo é, pelo menos, uma enorme preparação para um futuro de que tanto Portugal necessita. Repito: a instituição nas escolas primárias (insisto em usar esta denominação) de uma classe de Democracia, em que a pequenada aprenda a saber ouvir, a responder só na altura certa, a respeitar a opinião dos outros, mesmo que seja diferente da sua, a pensar antes de falar e, sobretudo, a entender que a sua Liberdade termina onde começa a dos outros, essa aprendizagem é fundamental para ir formando as gerações futuras. Defendo o princípio de que o comportamento desses alunos e futuros cidadãos passaria a não necessitar de “doutoramentices” para marcar as suas posições profissionais. Numa Nação como a nossa, com apenas três dezenas de anos de prática democrática, com as enormes diferenças sociais que se mantêm e ainda com uma enorme percentagem de iliteracia na população, dar esse passo enquanto, na área da política, os antigos continuam a agredir-se mutuamente e nada avança que torne o nosso País mais próximo da Europa, preocuparmo-nos com o ensino da prática democrática e isso logo na altura das primeiras letras, essa via proporcionar-nos-ia abandonarmos os complexos dos doutores de tudo e, especialmente, do nada!...
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