quinta-feira, 18 de março de 2010

VERGONHAS


DEPOIS do texto longo que deixei passar ontem neste espaço, parece que pouco mais haveria a dizer no que respeita à situação que se observa no nosso mundo e, no caso português, quanto às anomalias que se têm vivido nos últimos anos – para não fazer referência ao passado mais distante e de triste memória -, mas, com este vício de não guardar no interior o que nos amarga a existência, não posso passar em branco aquilo que foi divulgado nesta altura e que tem de nos revoltar, especialmente por ser cada vez mais amargurante o termos de suportar as dificuldades que a crise, ou lá o que lhe queiram chamar, nos obriga a passar.
Mas, isto de ser mostrado como gente mediática (que é maneira que se inventou para chamar os homens e as mulheres que surgem constantemente nos écrans das televisões e nas páginas dos jornais, ao ponto até de se ter de enjoar a persistência com que os “impingem”), um número de pessoas que se sobressai por qualquer razão, até mesmo no mau sentido, faz com que a apreciação ou o asco nos prendam a atenção e, como é o caso do que vou expor, não deixem passar em branco, sem comentário, algo que, de facto, constitui uma vergonha para os beneficiados, mas também para aqueles que consentem que factos destes ocorram.
Então não é, que um administrador da empresa estatizada Portugal Telecom, com um nome que tem andado muito zonas de Informação, Zeinal Bava, recebeu o ano passado, como pagamento do exercício das suas funções, entre salários e prémios de gestão, um milhão e meio de euros, esclarecendo a Informação jornalística que veio a lume que, para receber um funcionário normal da mesma empresa tal montante teria de trabalhar 80 anos, face ao salário médio líquido dos que são funcionários daquela e que é de 1.250 euros!
Se bem que, em comparação com os pagamentos que ocorrem noutros países nos mesmos cargos de mando, em Portugal ainda é onde se é menos generoso, por exemplo em relação a Espanha, não deixa de ser revoltante que, no nosso País, em que o chamado PEC ainda mais vem criar dificuldades aos trabalhadores correntes – e é bom que tenham emprego, porque mais de 600 mil estão desocupados -, não deixa de ser escandaloso que pessoas como o indicado acima, como Henrique Granadeiro (que até foi anteriormente consultor de um nosso Presidente da República), Francisco Soares Carneiro e Rui Pedro Soares (ambos já saídos, por motivo do caso das escutas no processo “Face Oculta”) tivessem auferido no ano transacto salários da ordem das muitas centenas de milhar de euros.
Então não existe no nosso País ninguém com poder que, sem se poder esconder da vergonha que tais ocorrências têm de proporcionar, seja capaz de tomar medidas que terminem de vez com tamanhas vergonhas ou, no mínimo, aparecer perante os portugueses a demonstrar a sua discordância com abusos, mesmo que lícitos, desta espécie e, acima de tudo, pelo facto das misérias que constituem uma praga que se encontra espalhada de Norte a Sul?
Tudo indica que não. Tudo muito caladinho, tanto em Belém como em S. Bento, se bem que o Chefe do Estado, muito de passagem e sem o ar de se encontrar deveras incomodado, se tenha referido ao tema.
Mas o que é preciso é não deixar a questão ao abandono. Há que repetir, repetir, dar os nomes às coisas e às pessoas.

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