quinta-feira, 12 de novembro de 2009

MUROS DA FÉ



AGORA, que se fala tanto do muro de Berlim porque se comemorou o aniversário da sua queda (e espero que tenham lido, a tempo, neste meu blogue, o texto que escrevi em 27 de Outubro, antes pois da data nesta altura tão referida), é altura apropriada para o mundo se dar conta de que existem ainda três muros levantados que dividem populações desta parte norte do mundo. São eles o da Irlanda do Norte, do Chipre e de Israel.
Tratam-se de separações que pretendem marcar as distâncias entre religiões diferentes, e que, devido aos confrontos armados que têm tido lugar por tal motivo, forçaram a que uma das partes – ou até as duas simultaneamente – erguesse uma divisória suficientemente alta e forte que impeça o contacto entre as populações separadas. Logo, no arredo de amigos, famílias e interesses económicos.
Na verdade, parece inconcebível que, numa época em que se procura estabelecer comunidades, agrupar interesses, conviver para fazer frente às dificuldades que têm vindo a aumentar e que, até com a chamada crise económica, mais justifica que exista uma entreajuda dos vários participantes em vez das costas voltadas, seja precisamente com este panorama que se assista à manutenção de muros.
O mais incompreensível ainda é que se apontam, justificando esse tal desencontro, as diferenças religiosas, sobretudo no Chipre e na Irlanda do Norte, como se fosse muito difícil conciliar formas diferentes de seguir as crenças que cada grupo acolhe e pratica entre si. Já que, no que se refere a Israel e aos palestinos o afastamento tem como base um ódio mais profundo que põe frente-a-frente dois comportamentos que assentam em factos históricos com milhares de anos, também eles com origem numa crença religiosa. E daí vem o conflito que assenta no direito à posse da terra onde estão instalados dois países.
Também há que referir o que ocorre no que se refere às duas Coreia, a do Norte e a do Sul, e aí a diferenciação assenta exclusivamente nas orientações políticas seguidas por cada um desses países. Sendo que a divisão se situa no tão falado paralelo 38 (que, por sinal eu já visitei como jornalista e escrevi na altura sobre o caso), de ambos os lados se encontram as forças militares antagónicas, ainda que um número apreciável de militares americanos esteja colocado na parte sul, como que a prevenir contra o apetite de uma disputa entre ambos os pólos. E assim se conserva até que um dia, sobretudo na Coreia do Norte, se assista à substituição do sistema fundamentalista que já terminou até na China e que na Rússia sofreu um enorme amolecimento, para que um entendimento leve, sobretudo aos sul-coreanos, uma diminuição assinalável da pobreza.
Todos os muros que o Mundo insiste em manter são a demonstração plena de que o Homem não dá mostras de ser capaz de terminar com as separações e seguir o conselho de que a união faz a força.
Mas não podem ser muitas as esperanças numa mudança de comportamento. O egoísmo e a petulância política de que o meu sistema é melhor do que o teu fazem com que o entendimento não se mostra fácil. A não ser que a crise que grassa provoque um desejo de saída da situação através dos apoios que se recebam dos vizinhos. A fome aguça o engenho, diz-se, e o tempo que já ocorreu desde que se iniciou este período difícil para todo o mundo já deveria ter aberto os olhos aos que têm os muros a separá-los.
Mas parece que, até agora, não bastou…




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