sábado, 21 de novembro de 2009

COMPUTADORES



UMA AMIGA minha, por sinal médica, já na casa dos 60 e poucos anos, conversando um dias destes e vindo à baila o tema dos computadores, não teve qualquer hesitação em declarar que “essas modernices” não lhe interessavam nada e que nunca tinha sentido falta de saber mexer nas “complicadas” máquinas. Para além disso, até lhe metia raiva ver como a miudagem passava horas agarrada aos teclados, com jogos “esquisitos” e outras complicadas distracções. Esta a forma que utilizou para expor o seu ponto de vista de alergia em relação às tais “esquisitices”.
Conto este pormenor, hoje que resolvi, para desenfastiar, não me dedicar a temas complicados da política que temos por cá, pretendo apenas sublinhar a situação dos que, pertencendo já a uma geração que vem de longe, e que considera não estar já em condições de enfileirar na nova tecnologia da informática, deve, pelo contrário, ser convencida de que esta forma de comunicar, escrever, arquivar e tomar conhecimento do que o mundo informa não tem porquê ser apenas objecto de uso da juventude.
Eu próprio, que vim do tempo do jornalismo escrito à mão, depois às máquinas de escrever, primeiro aquelas antigas e pesadonas e depois as portáteis e, por fim, as eléctricas, e em que os arquivos dos jornais ocupavam espaços enormes e uma imensidade de pastas com textos e fotografias, quando passei à computorização, inicialmente também antiquada e sem os recursos que hoje apresenta, tive a minha reacção de recusa de adaptar-me à modernidade.
Quem ainda assistiu ao trabalho dos revisores dos textos que, sendo mestres do português, emendavam nas redacções os artigos saídos das mãos apressadas dos que escreviam e que só depois seguiam para as oficinas de composição e impressão, e quem contemplava depois os compositores, ainda antes das “linotipes”, a alinhar as letras de chumbo e a ler ao contrário as frase acabadas, é evidente que, mesmo com os primeiros computadores que ocupavam uma sala inteira, teve de ficar tão deslumbrado como desconfiado com a novidade. Mas a evidência era tão flagrante que não havia que hesitar. E hoje seria inconcebível admitir que era possível voltar aos tempos antigos.
Ora, o que eu pretendo expor com este intróito histórico é que há que convencer as velhas gerações, sejam quais forem as suas idades e desde que se encontrem com saúde bastante para poderem aderir às novas tecnologias, de que, tal como não se pode hoje passar sem receber os benefícios das mais modernas formas de medicina e cirurgia, também não é benéfico que não acompanhemos a juventude com os mails, os blogues, os SMS, as mensagens e todas as técnicas que não afinal assim tão complicadas que um adulto maduro não domine. E mais: é que acabaram os montes de papel que, os que sempre escreveram, guardavam pelos cantos das casas, para zanga das mulheres de família.
Já que a duração do tempo de vida aumentou tanto nos últimos anos, o mínimo que se pode fazer é ocupar os espaços sem ter nada que fazer e desenvolver a escrita e o arquivo de tudo, até de fotografias, que convém deixar para os que vierem depois. Pelo menos, no nosso País em que o entretenimento a escrever e a ler não é uma atracção muito apreciada pela terceira idade, será uma forma muito útil dos mais novos contribuírem para que os seus familiares de idade deixem de estar sentados a um canto a olhar para o infinito e lhes ofereçam, neste Natal que aí vem, um computador dos mais baratos e tenham paciência para os ensinar a tirar partido de um instrumento que a tecnologia moderna fez chegar até às nossas mãos.

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