quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O QUE EU TERIA FEITO!...



Este título poderá incutir o eventual leitor em erro. Não, eu não me considero sempre certo nas opiniões que emito e muito menos afirmo que não sustento dúvidas nas decisões que tenho de tomar. Por isso, resguardo sempre uma certa dose de compreensão no que diz respeito às atitudes dos outros. É o caso do comportamento do Presidente da República naquilo que tem a ver com a forma como entendeu proceder no capítulo da “embrulhada” que se tornou excessivamente pública e que, apesar das tentativas, não foi totalmente esclarecida.
Perante este saldo, que pode ser ou não final, e não sendo de prever que Fernando Lima surja tão cedo a esclarecer o motivo que o levou a encontrar-se com o jornalista do “Público” e a transmitir-lhe um recado em que, segundo parece, afirmou estar ali na condição de porta-voz do Presidente da República, ficará para mais tarde conhecerem-se todos os meandros do enredo que, nesta altura, se afirma terem contribuído para o resultado das eleições legislativas. Tese esta que eu não sustento.
Seja como for, Cavaco Silva, que faz questão de se mostrar isento de influências partidárias, o que, no que me diz respeito, reconheço essa intenção, na prática e especialmente neste caso, não teve a habilidade suficiente para desfazer o balão e, pelo contrário, só inchou o problema.
E vem agora o momento de esclarecer sobre o que eu teria feito no seu lugar: quando surgiram as primeiras vozes a levantar suspeitas no capítulo das eventuais escutas ou transmissões de emails desde Belém (o que constitui, desde logo, um paradoxo – escutar o quê?), nessa ocasião impunha-se que não se mantivesse o silêncio, procurando suster logo ali o que prometia vir a ser empolado por quem estivesse interessado em criar a confusão. Mas, não tendo sido, nessa altura, posto um ponto final na que parecia ser uma atoarda, então, mesmo atravessando-se um período eleitoral, não o Chefe do Estado, ele próprio, mas o chefe da sua Casa Civil em seu nome, deveria haver capacidade para pôr cobro ao que dava mostras de poder perturbar as eleições. Cavaco Silva tinha vantagem em manter-se resguardado e mantido o seu assessor de Imprensa até ao momento posterior ao domingo passado. E, caso considerasse que existiam motivos para afastar Fernando Lima, então o esclarecimento claro e necessário não deveria faltar.
Não tendo sido nada disto o que ocorreu, em lugar de uma atitude de bom senso e de tentativa de não vir criar amargos e disputas em dois dos principais partidos políticos, o que se nos depara é precisamente o contrário e, nem se alteram os resultados das eleições nem se contribui para desfazer o desentendimento entre os socialistas e os sociais democratas, mesmo que não seja previsível que um bloco central venha a resolver a difícil governação que se perfila.
Foi pena tudo o que sucedeu e a maneira como não se contribuiu para não aumentar as achas na fogueira. E é por isso que tenho a veleidade de afirmar que eu não teria procedido assim.
Para além de tudo isso, estando a decorrer a campanha para as eleições autárquicas, ainda que, por enquanto, com pouca motivação pública, manda a verdade que se diga que não parece que a situação de desconfiança que paira no ambiente partidário tenha desaparecido e, por isso, independentemente das escolhas que venham a ser feitas em cada zona autárquica, o que se aguarda com certa impaciência é constatar como vai José Sócrates descalçar a bota da governação, face à minoria parlamentar de que dispõe.
Ganhou as eleições? Que boa vitoria!...

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