terça-feira, 27 de outubro de 2009

O MURO DE BERLIM



VEIO-ME cair nas mãos um jornal espanhol – El Pais – que trazia a memória de um acontecimento vergonhoso e de que o mundo inteiro não se devia esquecer, muito embora, em consciência, haja que reconhecer que o Homem não deseja aprender com os erros que foram cometidos para trás e mantenha essa maledicência doentia de não ser capaz de tudo fazer para que a paz se instale em todo o Planeta e a concordância e a ajuda fraterna sejam o mote principal e até único que poderia trazer alguma felicidade a todos os seres humanos. Refiro-me a esse chamado Muro da Vergonha que foi instalado para dividir a Alemanha.
Vale a pena trazer à memória esse acontecimento, mesmo com datas. Pois foi a partir de Junho de 1948 que, durante 10 meses e 23 dias, as autoridades soviéticas impediram que dois milhões e meio de berlinenses ficassem sem acesso terrestre ao lado oeste e foi uma greve provocada pelos operários que tinham levantado a divisória berlinense que provocou, em 17 e Junho de 1953, depois de uma actuação feroz por parte do exército vermelho, que, na noite de 12 para 13 de Agosto de 1961, Berlim Oriental se converteu num cárcere para todos os habitantes daquele lado da que já era denominada República Democrática da Alemanha e foi na noite de 9 para 10 de Novembro de 1989 que se começou a erigir aquele muro que acabaria por ter 160 quilómetros de comprimento e que levou onze meses a ser construído, tendo dividido em duas a Alemanha que antes se conhecia.
Durante 28 anos e 88 dias, os alemães estiveram divididos e os 17 milhões que viviam no lado oriental puderam terminar com a frustração do impedimento de sair dessa prisão e de poder conviver com os parentes, os que os tinham, que residiam do outro lado do muro.
Eu ainda tive ocasião, na minha profissão de jornalista, de, durante a existência dessa divisão controlada, poder passar a Porta de Brandenburg, visitando o outro lado, depois de ter sido sujeito a um estudo profundo do meu passaporte e da minha fotografia lá colocada e de ter aguardado largos minutos até me ser permitida a passagem para o outro lado (tendo que cambiar uma quantia de marcos da Alemanha de Oeste por uma quantidade ridícula de marcos de Leste, que valiam quase nada).
Ao ter entrado na larga praça que surgia logo a seguir ao arco lindíssimo que separava as duas zonas de Berlim e tendo percorrido a pé umas ruas que desembocavam no local, deparei com uma população muito metida consigo, triste e vestida de forma bem diferente do que se via do lado donde eu chegava.
Dizem-me que a cidade de Berlim de hoje é muito diferente do que era na época triste em que visitei o lado Leste. Toda a capital alemã recorda um pouco o passado mas faz questão em construir o seu presente. A cultura mantém-se na base de toda a sua existência. Ainda se conservam, propositadamente, alguns pedaços do muro, em locais estudados. Essa memória não há que a perder. Nem parece que se trata de uma cidade que passou pelo martírio que lhe foi imposto, pois renasce com entusiasmo. Os nossos arquitectos e os construtores civis que temos deviam ir tomar conhecimento de como a vontade de uma nação produz milagres e ultrapassa as dificuldades. Bem se poderia modificar a tristeza da nossa cidade de Lisboa e ser-lhe dada uma imagem que acabasse de vez com a velharia que se mantém e que poderia e deveria ser aproveitada para, tirando partido do antigo, incutir-lhe uma ligeireza de cores, dado que, afinal, o rosa velho até é um tom de que muito gostamos.Mas qual!... Nós não temos nada a aprender com ninguém

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