domingo, 25 de outubro de 2009

APRENDER



SUCEDE constantemente ouvirmos sair das bocas dos políticos, especialmente quando contestam opiniões de adversários, que “não precisam de receber lições de ninguém”. E isso provoca-me a maior das interrogações. Então, haverá alguém que possa afirmar conscientemente que não tem nada a aprender com os outros, sejam eles quais forem?
No que a mim toca, confesso que me custa a admitir que aqueles que fazem tal afirmação sintam profundamente aquilo que garantem ser o seu princípio de vida. Embora eu não possa nem queira servir de exemplo a ninguém, sinto-me diminuído porque uma das preocupações que mais me persegue é exactamente a contrária, ou seja a de ter a sensação de saber pouco e de, cada vez que absorvo mais algum conhecimento, constatar que continua a ser grande a distância que me separa da sapiência.
Quantas vezes eu me questiono se não contribuirá para me distanciar cada vez mais da felicidade - a tal impossível de alcançar em pleno - a ânsia de ir aprendendo o mais que posso nas diversas áreas de conhecimento que a vida apresenta. Não sei se o saber pouco não ajudará a não nos darmos conta do grau de ignorância que mantemos. E ficarei sempre com esta dúvida.
Aquilo que é ensinado hoje à miudagem quando ainda frequenta os primeiros anos da escola, nas antigas 3.ª e 4.ª classes, cada vez mais se afasta do que seria rigorosamente necessário que fizesse parte da aprendizagem que corresponde ao princípio de que é de “pequenino que se torce o pepino”. E repito aqui o que já referi em blogue anterior, de que uma classe de Democracia seria da maior importância para preparar os futuros adolescentes e adultos a saber respeitar os outros e ter vontade de ouvir. Pois acrescento agora que também seria da maior utilidade se não faltasse uma cadeira que incutissem nos alunos a consciência de que é raro saber-se muito e nunca se sabe tudo…
Talvez desta forma os homens que ocupam e venham a ocupar lugares na política não insistam em fazer afirmações de que não precisam de lições de ninguém. E, com essa modéstia, desde que seja autêntica, terão capacidade para escutar pontos de vista diferentes e até antagónicos dos seus que, quem sabe, não ajudarão a encontrar soluções que, quando se encontram fechados nas suas convicções, não satisfazem os objectivos que são essenciais para fazer andar o País no bom caminho.
O que eu não tenho é nenhuma esperança de que um José Sócrates qualquer, um que venha a ocupar o lugar de chefe de um Governo que surja, leve em conta a minha proposta. E ficaremos pelos Magalhães e pelo Inglês, sendo cada vez mais ignorantes na nossa própria língua. Até a língua francesa, de origem latina como a nossa, era, no meu tempo, a que se tinha de aprender e agora está completamente posta de parte.
Cada vez aumento mais as minhas dúvidas no que respeita à instrução escolar que se segue nesta época. Os velhos ditados e as redacções que éramos obrigados a fazer sem erros – porque cada um correspondia a uma palmatoada (que não matava ninguém) -, tudo isso hoje desapareceu. E o resultado está à vista.
Ai que Velho do Restelo em que me estou a transformar!”…


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