terça-feira, 1 de setembro de 2009

UM PAÍS SÉRIO?



Um País a sério, como eu entendo que deve ser, é aquele que, entre outros factores dignos de servirem de exemplo ao mundo, tem como preocupação principal, para além de levar com eficiência a governação nas suas diferentes áreas, o defender os interesses dos seus habitantes até ao extremo das suas possibilidades. Um português, tanto em Portugal como em qualquer parte do mundo, que tenha um contratempo e necessite do auxílio dos seus compatriotas, deve ter confiança de que não lhe faltará o préstimo indispensável para se libertar da dificuldade em que esteja envolvido. E, tomando como exemplo o que ocorre com os americanos dos E.U.A., em que é conhecido que um súbdito daquela Nação nunca fica sem ajuda sempre que é tomado conhecimento de um problema que atravessa, chegando ao ponto de, caso seja imperioso, a sua Pátria toma o encargo de se encarregar do retorno do cidadão americano até à origem, custe o que custar, essa característica não é coisa que se verifique, nem de perto nem de longe, cá pelos nossos sítios.
Eu tenho um exemplo de que nunca me esquecerei. Vale a pena referi-lo. Uma vez que fui a convite do Governo indiano visitar aquele País e em que tive oportunidade de me deslumbrar com Goa, ali foi-me dito até por um padre que deveria ir ver o que estava guardado na cave de uma igreja que estava completamente em ruínas. E não me revelou o que ali ia encontrar. Fui, tive de me dobrar para atravessar a porta que estava meio desfeita e, no recinto apertado onde entrei, deparei com um espectáculo horroroso: uma série de 9 caixões, todos com a identificação nas tampas, por exemplo, com uma chapa em que estava descrito “soldado n.º tal, José qualquer coisa, Companhia tal”, e encontrando-se no chão espalhado, caído de um caixão que tinha rebentado, o esqueleto de um morto que pertencia àquele grupo.
Publiquei no meu Jornal, em “o País”, a reportagem da visita à Índia, dando conta de todos os pormenores, salientei o episódio do abandono da Pátria a esses soldados que tinham morrido ao nosso serviço no confronto com a tropa indiana, quando se deu a expulsão portuguesa dos territórios de Goa, Damão e Diu, e não aconteceu nada. Ninguém do Governo da época – e falamos nós agora do Executivo que temos nesta altura! – se preocupou em procurar saber pormenores sobre o acontecimento que tinha sido alvo do meu trabalho jornalístico. Por aqui se vê como interessa ao Estado Português o que os cidadãos do País precisam da sua Pátria quando enfrentam qualquer dificuldade, especialmente fora do País. E estejam eles vivos ou mortos.
O acontecimento ocorrido agora no Hospital de Santa Maria, em que vários doentes ficaram cegos ou com a visão muito reduzida, por culpa dos serviços médicos, seja por aplicação errada dos medicamentos ou fosse porque, já na origem esses remédios tenham sido fornecidos com rótulos errados, tudo estando por esclarecer como sucede sempre no nosso País, a verdade porém é que os chamados responsáveis governamentais não enfrentam como têm obrigação de fazer as situações que requerem a atenção particular do Estado português. O abandono, o deixar andar é o princípio que se segue. E os portugueses ficam sempre entregues a si próprios. Sem apoio. Abandonados. Que se desenrasquem!
Vamos lá ver se o caso morre assim, como tantos outros de que já nos habituámos, ou se sai ainda alguma determinação superior que, responsabilizando os culpados pelo grave acontecimento, não deixa de, pelo menos, indemnizar as vítimas, portugueses como nós todos, ainda que o vil metal não possam compensar suficientemente a perda de um bem tão importante como é a visão.
E vejam lá se algum partido político que vai concorrer às próximas legislativas levantou este problema e se insurgiu contra a indiferença com que tem sido tratado o problema. Claro, o PS fica mudo, mas e os outros?

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