domingo, 27 de setembro de 2009

O HOMEM E AS CIRCUNSTÃNCIAS



Em dia de eleições, não me cabe falar do tema que vai estar na cabeça da maioria da população deste País. Por isso, para preencher este blogue diário para o que faço questão de não deixar em branco, ocorre-me deitar a mão a um caso que merece ser divulgado e que dá que pensar, por isso considero propositado para preencher o tempo que os portugueses têm hoje a aguardar pelos resultados que as televisões, lá para a noite, começam a divulgar. Aqui deixo, pois, o tema:
O ser humano divide-se em variadíssimas categorias e, pelo menos graças a isso, não constitui uma amálgama de indivíduos, todos a pensar da mesma forma e a ter as mesmas reacções. São as regiões onde habitam, os hábitos e costumes que influenciaram o seu crescimento, o grau de instrução que conseguem obter, a língua, a cor da pele, a religião que segue, o ambiente em que estão envolvidos, a profissão em que estão incluídos, as condições climatéricas que criam os hábitos de vivência, o núcleo familiar a que pertencem, tudo isso forma os indivíduos mas, acima de todos, são as circunstâncias que originam as práticas e os confrontos das condicionantes que a vida apresenta a cada um dos habitantes da Terra.
Ortega y Gasset foi o filósofo que defendeu com insistência esta teoria e, ao segui-la sempre que posso, concluo que, na verdade, o Homem está mais dependente das oportunidades que se deparam perante cada um dos viventes do que, em muitos casos, da estafada perseguição de objectivos que se pretendem alcançar.
É certo que o trabalho é muito importante para se tentarem obter os resultados que se aspiram e esse trabalho custa suor, esforço, persistência e, seguramente, contrariedades e, por vezes, lágrimas. E é precisamente essa tarefa que leva, em muitas ocasiões – para não dizer quase sempre – a que o ser humano proporcione e se confronte com as más intenções que constituem a normalidade do animal racional que todos nós somos.
E é este o destino: ou conformado com o que nos calha na estrada da vida, não levantando por isso obstáculos e não obstruindo os outros, ou ser batalhador e, aí, acotovelar, empurrar, pregar rasteiras. Venha o Diabo e escolha!
É evidente que o Homem, com muita regularidade, perde as ocasiões que se lhe deparam, não aproveita todas as oportunidades que surgem, por desconfiança quanto a resultados, por temor a mudanças, por simples mandria ou seja lá pelo que for, entende que o lugar onde a caminhada da vida o colocou é aquele que deve conservar e assim permanece até ao último dia. Mas existe o outro, o irrequieto, o desconsolado com o que lhe saiu na rifa, o aspirante a melhor ou simplesmente a diferente do que tem e esse busca todas as oportunidades que se lhe depararem. É o que aproveita as circunstâncias, as que saltam ao caminho. E essas podem ser boas ou piores do que a maneira de viver que seguia então.
Daí nasceu o princípio de que o ser humano, sem as circunstâncias que busca ou que se lhe deparam, não seria aquilo que, cada dia, aparece no panorama. Um pastor que, desde pequenino, exerce esse ofício e assim permaneceria até à velhice se não deparasse com uma oportunidade que lhe foi proporcionada em determinado momento. E essa ocasião pode ser, por exemplo, a de encontrar no alto da montanha, por uma casualidade espantosa, um citadino que, tendo apreciado a esperteza do garoto, o levou para a cidade e lhe proporcionou os estudos idênticos aos dos seus filhos e daí ter surgido um cientista de renome. Então, se não fosse essa circunstância, não se teria perdido um cidadão de grande craveira?
E o contrário também ocorre: o fulano bem comportado, com família decente, que, tendo encontrado circunstancialmente um malandrão que lhe meteu no corpo o hábito de roubar e que se transformou, de um dia para o outro, num fora da lei a contas com a polícia. No caso dos drogados, então, esta transformação circunstancial é mais do que infelizmente corrente.
Há quem dê outro nome às circunstâncias da vida. Sorte ou azar. Mas é ser simplista demais ficar-se por esta classificação.
Ora, as eleições fazem parte do número das circunstâncias que são proporionadas ao Homem . E elas constituem uma forma de se alterar o sistema em que se está inserido ou o de se ficar na mesa, que também constitui uma maneira de se prosseguir, não mudando nada.
O dia de hoje, para os portugueses, representa o termos de aceitar o que as circunstânciass políticas facultam aos cidadãos. Mais tarde se verá.

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