sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ENVERGONHADOS



Já sei que os “conformadinhos da silva” desta nossa Terra saltam à liça para me acusar de pessimista e de estar sempre a depreciar as nossas características, pois o serem os portugueses – e não os estrangeiros, que esses, sim, é que eu não gosto – a criticar significa, para tal gente, isso representa um sinal de falta de patriotismo. Claro que eu não penso assim. E entendo mesmo que o facto de apontarmos a nós próprios, os defeitos que podem ser solucionados, é uma forma de pretender rectificar o que está mal e contribuir para que Portugal, ao cabo de tantos séculos de existência, deixe de olhar só para o seu umbigo e tenha a humildade suficiente para reconhecer aquilo em que anda errado.
Não me canso, é certo, de referir a vergonha a que chegou o nosso sistema de Justiça, pois que não sendo nada que só agora é que se revelou ineficiente, chegou a um ponto em que não é possível andarmos a fazer papel de distraídos e a permitir que tudo continue na mesma… até um dia!
Também já constituiu matéria dos meus blogues, o caso denominado de “Casa Pia”, em que o julgamento em causa dura há 56 meses, nada mais nada menos do que cerca de 5 anos. E, até à data, ainda se permanece a aguardar que seja marcada a sessão final, em que se apurarão quem são os réus condenados ou se, pelo contrário, tudo fica na mesma, sem responsáveis a ter de cumprir o que quer que seja.
O longo período em que os dinheiros públicos têm sido desbaratados com a extensão do julgamento em causa, foi ocupado com 440 sessões, até agora, em que foram ouvidas 990 testemunhas em 1722 horas úteis de audiências, todas registadas em 1055 CDs, tudo guardado em 265 volumes.
Quanto custou tudo isto ao erário público é uma operação que não sei se já foi feita, mas que não será uma verba insignificante, quanto a isso não deve haver grandes dúvidas.
A pergunta, pois, a fazer ao Governo que já Sócrates anunciou que vai modificar se vencer as próximas eleições, termine por isso no próximo dia 27 e, concretamente ao ministro da Justiça que ocupou esse lugar durante todo este tempo, a pergunta é se não existiu a menor preocupação nas cabeças dos respectivos responsáveis, ao ponto de, pelo menos, terem aparecido em público a demonstrar a sua inquietação por se estar a passar tal situação e tivessem dado mostras de querer meter mão numa vergonha que dá a pior imagem daquilo que somos e do que fazemos.
Eu não entendo como essa gente que governa e que tem influência na resolução dos problemas graves com que nos defrontamos, como é que tais pessoas não se revoltam por dentro e não conseguem dar mostras de querer acabar de vez com as múltiplas vergonhas que deviam fazer andarem todos de carapuça na cabeça.
Tudo isto vai mudar alguma coisa? As eleições alteram o que está mal? As esperanças de uns e as contrariedades de outros depararão com o assistir-se a continuar tudo na mesma?
Ainda será cedo para encontrar resposta inequívoca a estas dúvidas. E cá ficamos nós, portugueses, como sempre, a manter, ainda que com muito custo, a esperança no dia melhor que alguma vez virá. O que se deseja é que seja, connosco ainda vivos.

Sem comentários: