segunda-feira, 1 de junho de 2009

VEM CÁ ABAIXO Ó MARQUÊS!...



O Marquês de Pombal foi um político da sua época que teve o privilégio de ter a sorte pelo seu lado. Se um terramoto se pode considerar como uma ajuda que a Providência põe à disposição de quem governa, no caso Sebastião de Carvalho e Mello, então conclua-se que a derrocada física que deixou Lisboa num estado de destruição de que, ainda hoje, se encontram alguns vestígios, proporcionou que um homem, pleno de sentido de dinamismo e de aproveitamento das circunstâncias, tivesse feito um trabalho que, no caso de se tratar de um outro governante sem as mesmas características, teria resultado numa paralisação de actividades e de mãos na cabeça a proclamar a infelicidade que tinha ocorrido.
Daqui se conclui que é precisamente nos períodos de maior descalabro que se podem encontrar seres humanos que se distinguem pelas suas iniciativas e pelo acerto em utilizar todos os meios para tirar partido dos maus momentos que se atravessam. Se não tivesse existido um Marquês de Pombal, rodeado dos técnicos respectivos que foram aproveitados para porem em prática os seus méritos, sobretudo arquitectónicos, a capital portuguesa não se apresentaria, sobretudo na chamada Baixa, como a vemos hoje. E, verdade seja dita, também valeu o rei dessa época, D. José I, ser uma personagem que facilitou a maior liberdade de acção ao seu ministro principal, o que não sucedeu com a sua filha, D. Maria I, que sempre mostrou a maior aversão pelo político poderoso que tão útil foi à reconstrução da velha e destruída Lisboa. Havia razões de ordem religiosa que provocaram tamanha perseguição da Soberana, mas quem ficou a perder foi a Nação, que não viu prosseguirem as remodelações que eram necessárias.
Seja como for, se hoje em dia surgisse um político com as características realizadoras do prestigiado Marquês, ainda que fosse republicano, para estar dentro da época, claro que teria de enfrentar outras “donas marias”, que as há por aí com fartura, mas faria pela capital de Portugal e por outras zonas que também necessitam de grandes remodelações, aquilo que não há forma de se ver realizar, do mesmo modo que, no capítulo da governação e dentro das regras democráticas que têm de estar sempre presentes, poderia pôr em prática o sentido prático e deixar de lado as quezílias paralisantes que são tanto do agrado dos políticos dos nossos dias.
Todos os detentores do poder cometem erros e o Marquês não se livrou desse pormenor, mas, quando a História aponta mais tarde os feitos que merecem ser recordados e esses têm efeitos positivos inegáveis, então uma imponente estátua colocada no lugar mais visível da capital constitui bem a prova de agradecimento dos que se lhe sucederem.
Será que, neste período pós-25 de Abril (e mesmo antes) passou por cá algum português que tenha deixado uma obra semelhante à que saiu das decisões daquele governante? Talvez o engenheiro Duarte Pacheco, que foi autor de obras que melhoraram bastante alguns pontos nacionais, especialmente em redor de Lisboa, possa merecer uma comparação, ainda que distante, mas, muito rebuscando na memória, não se descortina outra figura que valha a pena referir.
Por muito que faça saltar de indignação este comentário que aqui deixo, a impressão que muita gente terá no seu íntimo é de que talvez viesse a calhar ocorrer outro terramoto que obrigasse a planificar nova “Baixa” lisboeta, para, deste vez, ser reconstruída mais de acordo com a circulação rodoviária actual, assim como bem necessitavam outras zonas ser levadas em conta para se lhes emprestar as características que lhes faltam, quer as do respeito pela sua antiguidade e manutenção histórica, e Alfama será um exemplo, quer com a modernidade que estão a precisar de assumir.
Vem cá abaixo, oh Marquês… que “eles” não existem de vez!

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