quinta-feira, 18 de junho de 2009

NOVO SÓCRATES?



Não podia deixar passar esta ocasião para, logo na manhã do dia seguinte, fazer referência à entrevista que José Sócrates concedeu à SIC, após o telediário da noite.
Confesso que, depois da sessão de ontem, na Assembleia da República, em que as oposições, todas elas, com saliência para Paulo Portas que tomou o comando das acusações ao primeiro-ministro, e face às afirmações surgidas de que se tinha alterado profundamente o comportamento do chefe do Governo, tendo passado – provavelmente só nessa ocasião – de arrogante a humilde, coisa que eu nunca considerei como sendo uma mudança assim tão visível, face a tudo isso sempre pensei que surgiria na entrevista televisiva um político que aproveitasse aquela ocasião (provavelmente programada para permitir uma visibilidade estudada), com um ar completamente modesto e em que, sem receio até do exagero, conseguiria transmitir alguns pedidos de perdão por certas falhas cometidas ao longo do seu mandato governamental. A minha ingenuidade chegou ao ponto de pensar que o exemplo de Obama, que não teve medo de afirmar em certa altura logo no início da sua presidência, que não sabia tudo, poderia ter influenciado o secretário geral do PS, no papel de principal responsável pela condução do País ao longo deste mandato que vai terminar em Outubro.
Como me enganei! Afinal, o entrevistado, ou não foi capaz de assumir esse papel ou era já assim que poderia ter estado combinado aquilo que se designou por “entrevista”. A jornalista, aliás simpática, não lhe fez qualquer pergunta difícil de responder. Não fez um bom trabalho de casa. Ali esteve a suportar uma propaganda socratiana, aquela que passou para as antenas dos televisores e que, atrevo-me a afirmar, mais uma vez enfastiou os portugueses que não se situam na sua área. E não se trata apenas de serem ou não socialistas os que ligaram as televisões para tomarem nota de um Sócrates que, se admitia, poderia aparecer e provocar uma surpresa a todos.
Pouco mais tenho a dizer quanto ao espectáculo bem conhecido que foi oferecido a quem se sujeitou ao discurso propagandístico. Nada de novo. O convencido que tem sempre razão não conseguiu – nem sei se estaria disposto a isso – falar das suas falhas e dos erros que, como seria natural, teriam de ser cometidos durante toda a legislatura.
Tratou-se de mais um atestado de pobreza política o que foi oferecido na dita entrevista. E foi uma pena. Tenho, de facto, um dó infinito deste homem que se julga o primeiro, o único, o certo, o indiscutível. Todo o mundo circula à sua volta e que não se dá conta de que aqui existe um homem-modelo, um político exemplar, alguém que ficará na História e, se não for assim, então todos terão de ser uns ingratos.
A pergunta a fazer aos portugueses – como se isso fosse possível! – é se, depois deste espectáculo televisivo, teria subido a pontuação de José Sócrates no conceito político. Dentro de todas as probabilidades, a minha opinião é a de que não foi acrescentado qualquer valor, se é que não desceu até na escala.
Digo isto, mas devo sublinhar que me transmite enorme preocupação que tal aconteça. É que o nosso País atravessa um período de enorme perigo social. E não é com a falta de uma política bem estruturada e firme que se consegue fazer com que não caiamos num atoleiro ainda pior do que aquele que atravessamos nesta altura. Bem desejaria deixar aqui boas esperanças em relação ao que se vai passar depois das próximas eleições que, segundo parece, ocorrerão em Outubro que aí vem. Mas não sou capaz de mentir…

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