sábado, 23 de maio de 2009

JORNALISMO, ISSO?



Para dizer a verdade, já há muito tempo que esperava deparar com um espectáculo semelhante, como o que o Bastonário da Ordem dos Advogados, dr. Marinho Pinto, ocasionou ao ser “entrevistado” pela “jornalista” Manuela Moura Guedes.
De facto, sendo eu um jornalista com mais de 50 anos de profissão e que passou por todas as etapas da carreira, desde o de aprendiz até de director de periódicos, tenho, no que respeita ao exercício da actividade, uma posição de respeito e de cumprimento de regras que não se conforma com atitudes que prejudicam a ideia do que é, de facto, a actividade jornalística.
Fui ensinado por vários mestres que desempenhavam funções em plena época do antigo regime, em que me foi sucessivamente recomendado que a função do entrevistador jornalista, não sendo fácil, deve ser exercida com a maior seriedade, pois que, antes que tudo, a opinião de quem pergunta nunca deve servir para corromper aquilo que o entrevistado tem para dizer. Por muito que o registador das respostas às perguntas feitas pense de maneira diferente, até contraditória, daquilo que é defendido pelo solicitado a apresentar os seus pontos de vista, de forma nenhuma essa distância de posições deve interferir na limpidez da transmissão plena daquilo que é afirmado para efeitos de registo para transmissão jornalística.
Dito isto de outra maneira, o entrevistador não pode exercer as funções de julgador, muito menos de acusador. O que tem a fazer é perguntar bem e, depois disso, ouvir tranquilamente a resposta. E se entender que esta não satisfará a curiosidade dos leitores, ouvintes ou espectadores televisivos, o que tem a fazer é procurar o esclarecimento com outra pergunta, deixando claro que o faz para retirar eventuais dúvidas que poderão ter surgido de uma contestação pouco esclarecedora.
Quando muito, para tirar partido da função que está a exercer, podem ser feitas perguntas maldosas, de difícil ou comprometedora resposta, e apenas nestas circunstâncias é possível introduzir uma determinada rasteira, mas sempre com ausência de opiniões inadequadas por parte de quem interroga.
Posto isto, voltando ao que se poderá admitir como uma espécie de entrevista feita por Manuel Moura Guedes ao Bastonário da Ordem dos Advogados, todo o tempo dedicado a essa tarefa foi preenchido, não por perguntas mas sim por acusações e por uma infinidade de opiniões prestadas por quem, em frente das câmaras da TVI, ali se encontrava unicamente como jornalista entrevistadora com o intuito de esclarecer a posição tomada por aquela figura que representa os advogados portugueses e que, por sinal, está a ser bastante contestada por motivo das afirmações públicas que o dr. Marinho Pinto tem vindo a fazer em diferentes ocasiões, pelo que se levantaram já contestações de alguns advogados, também membros da referida Ordem.
O que se tornava útil, pois, saber era se esses desagrados têm razão de ser a nível dos advogados ou se seria a permanente posição incómoda que tem sido tomada pelo Bastonário contra actuações, em diferentes áreas, de elementos bem situados em múltiplas interesses criados na vida pública, o que levou a que se levantasse uma fileira de descontentes que terão influenciado a opinião de Manuela Moura Guedes.
Seja como for, o que não pode passar sem reparo é, da parte dos profissionais da Imprensa, uma profunda repulsa pela maneira como esta participante da classe jornalística – mesmo pouco experiente como se sabe – tem de ser revelada. Provavelmente, se não existisse uma cobertura por parte da direcção da TVI, não se iria repetir aquela conduta que, publicamente, foi de forma clara denunciada.

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