quinta-feira, 26 de março de 2009

AS BARBAS DE MOLHO


Já ninguém procura esconder esta realidade: Portugal, nesta fase, em que nos encontramos, dá mostras de estar envelhecido e de continuar, neste caminho que se apresenta, a aumentar o número de gente idosa. E é o próprio Instituto Nacional de Estatística que prevê que, daqui a cinquenta anos, haverão 271 idosos por cada 100 jovens, isto levando em conta que o nosso País contará com dez milhões de habitantes e que esse número se deverá ao volume migratório e a níveis de fecundidade elevada resultante dessas populações oriundas do exterior.
Ora bem, a dúvida que será legítimo levantar é se as características do povo português, nessa altura, se manterão como têm vindo a ser uma constante desde tempos remotos e que ainda hoje constituem uma espécie de marca própria. O comportamento dos portugueses tem um estilo próprio e, quer as demonstrações favoráveis quer as outras, ambas têm estado na base dos resultados que obtivemos e que continuamos a conseguir. Quanto ao futuro, aos anos que ainda vêm a uma certa distância, ninguém pode fazer uma antecipação segura.
Mas, ao analisarmos o que se passa à nossa volta neste rectângulo situado na ponta final da Europa, sobre isso temos possibilidade de verificar que alguma coisa desfigura o que deveria já ter sido rectificado, especialmente por parte dos governantes que, por mais que se apontem deficiências de execução e se alvitrem caminhos mais certos, no que diz respeito ao Governo de Sócrates não há forma de encontrarmos uma saída, de que tanto precisamos, desta situação dramática que atravessamos.
Bem pode o próprio Presidente da República pedir rigor nos investimentos públicos, sobretudo nos casos de teimosia socratiana de prosseguir com a ideia de obras públicas que, ou são desnecessárias ou seria aconselhável que essa situação fosse enfrentada só mais tarde, quando as finanças públicas o puderem suportar sem sacrificar outras exigências. Mas o Executivo faz orelhas mocas e faz questão de deixar dívidas para os vindouros, quando os responsáveis de hoje, que já se encontrarem reformados, não tiverem que prestar contas ao País.
E, a propósito de reformados, no caso do pagamento das respectivas reformas, bem se podem preocupar os que tiverem que sofrer as consequências de existirem mais velhos do que novos. Conseguirá esta minoria descontar o bastante para manter os que trabalharam antes e depois têm direito a ser recompensados? Que medidas são hoje tomadas de molde a precaver essa maldição que não é preciso ser-se pessimista para imaginar tal possibilidade?
Mas, muito mais há a criticar os que, nos dias de hoje, já que não têm meios para superar a crise, pelo menos que não a agravem com sonhos delirantes. Que, por exemplo, metam mão nas regalias de ordenados sumptuosos e outras mordomias que continuam a ser atribuídos a administradores em instituições ligadas ao Estado, como se pôde ler na notícia saída de que o Banco de Portugal fixou o pagamento de um salário mensal de 19.500 euros ao administrador provisório do Banco Privado Português e acrescentou na nota que aquele funcionário tem direito a todas as regalias de natureza social, para além, está bem de ver, de uma viatura para utilização pessoal.
Será, então, que o País está, de facto, envelhecido? E será, portanto, por isso que existe a preocupação, por parte daqueles que têm nas mãos a condução da Pátria em diferentes sectores, o afã em garantir uma reforma daquelas que hoje atribuem por conveniência? Se sim, teremos neste caso um exemplo.
E esta é uma pequena amostra do que ocorre por aí, em que os favores são prestados uns aos outros, porque nunca se sabe o que pode passar amanhã e é bom garantir que os que são agora favorecidos não se esqueçam de que podem vir a ter nas mãos decisões que interessem aos que agora são os favorecedores.
Ora aqui está uma característica dos portugueses. Mais uma vez pergunto: será que se vai manter, pelos anos fora, esta situação de que é bom “ir pondo as barbas de molho” e, para isso, há toda a conveniência em salvaguardar a necessidade de recordar que “agora fiz por ti… depois fazes tu por mim!”?

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