sábado, 7 de fevereiro de 2009

PERDER, NEM A FEIJÕES!


Não é que tal situação aflore ao meu pensamento, nem poucas nem muitas vezes, mas, ao ter lido, por estes dias, a notícia de que o portador de uma fortuna descomunal, esse homem que, durante anos em dias do passado e ainda no tempo de Salazar, era conhecido apenas por “o chinês”, e que, já depois da Revolução, passou a ver o seu nome divulgado com total conhecimento de quem se tratava, Stanley Ho, o todo poderoso dos Casinos de Macau, do Casino Estoril e agora também do Casino de Lisboa, ao ser afirmado que tal potentado levou um rombo na fortuna, pois perdeu, em 2008, 89 por cento do que tinha e, segundo revelou a Forbes, ficou reduzido “apenas” a mil milhões de dólares, perante tal inquietante notícia veio-me à ideia o sonho de que era eu a vítima de tamanho corte e que o meu nome surgia com a indicação de que me encontrava reduzido ao que sobrava da montanha de dinheiro que tinha sido de minha propriedade.
Quer dizer, de repente, ao acordar uma manhã era-me comunicado que a crise que não perdoa me tinha chegado à porta e que, dos muitos milhões que se encontravam nas diversas contas bancárias e nos activos dos meus bens, uma talhada grossíssima tinha sido extorquida e que tinha passado a ser somente um homem rico, mas não um dos mais ricos do mundo.
Não sei o que sentiria. Não imagino se, nesse dia, mandaria os meus cozinheiros reduzir nos pratos esquisitos que normalmente me eram servidos. Provavelmente dava ordem para retirar do pátio da minha deslumbrante casa em Hong Kong os vários automóveis de grande luxo. Começava a fazer contas mais severas quanto aos gastos com superficialidades que costumam fazer parte do meu dia-a-dia.
E digo isto porque já tive oportunidade de jantar em casa de Stanley Ho, por sinal um prato com carne de vaca especial que vinha directamente do Japão e tendo ficado hospedado no Hotel Mandarim, a seu convite, beneficiei do conforto de um dos seus sete Rolls Royce, até partir para Macau também sob o auspício de Stanley Ho.
Foi numa altura em que o magnata se queixava amargamente da falta de apoio (e até de perseguição) do então Governador português no território nacional na China, e que me pediu para dar uma entrevista em que apresentou as suas razões, o que deu oportunidade a que Ramalho Eanes, então Presidente da República, ficasse conhecedor por mim desse caso e tivesse substituído o governador de então e, a partir dessa ocasião Stanley Ho passou a beneficiar dos favores políticos e se resolveu, por isso, a investir em Lisboa, do que já
tinha desistido, tendo ficado com a concessão do jogo no Estoril e, através disso, começando a interessar-se por outras aplicações de capital no nosso território europeu. E têm sido muitas.
Relato isto com grande satisfação, pois foi graças à minha intervenção jornalística que não se perdeu um investidor estrangeiro daquele gabarito e hoje são inúmeras as famílias que beneficiam do trabalho – algum deles ultra bem pagos – que lhes dão os empreendimentos do homem que, de repente, sofreu também as agruras de uma crise que chegou a todos.
Seja como for, este sonho que aflorou à minha cabeça de que tinha levado um corte na monstruosa fortuna de que era o possuidor, só serviu para escrever este texto. Mais nada do que isso. Pode ficar descansado o Assis Ferreira, que foi um dos beneficiários do meu trabalho jornalítico em favor de Stanley Ho, de que o que sobra ainda chega para o fazer feliz. Deve andar mais preocupado o “chinês”, que isto de perder dinheiro não agrada nem aos que dormem enrolados em notas e moedas de todo o mundo.

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