domingo, 8 de fevereiro de 2009

FUGA PARA ANGOLA!



Já me tinham dado a conhecer as dificuldades que se levantam para obter visto de visita a Angola, começando por ser uma demora acentuada em ser obtido tal visto nos passaportes, dada a grande afluência de pedidos que atulham o respectivo consulado em Lisboa. Um antigo funcionário do semanário que eu dirigi, “o País”, que o acolheu em 1975, quando ele chegou da antiga colónia portuguesa, terra onde nasceu, ao querer, 30 anos depois, ir visitar a sua mãe e irmãos que ficaram no interior profundo da terra natal, agora com nacionalidade portuguesa e trabalho por cá, teve de se sujeitar às regras que Angola agora impõe e foi obrigado a explicar minuciosamente os motivos da sua visita.
Mas as razões parecem ser claras: é que a quantidade de portugueses que, em face das dificuldades que se sentem por cá para tentar conseguir uma vida minimamente aceitável, procuram, uns regressar a um local já conhecido de outras “guerras” e outros tantos para iniciar uma experiência em Angola, dado as notícias que lhes chegam serem suficientemente animadoras, procuram, repito, fugir deste tormento e também não havendo outras escolhas, pois que a crise que nos controla também não oferece perspectivas em países que, até há pouco, serviam para efectuar a experiência da emigração, como Espanha, por exemplo, deitam os seus olhos para onde, antes, foi um destino natural.
Essa a razão por que a terra angolana se oferece como uma porta de acolhimento que, no caso português, entre outras razões pela língua comum, se mostra particularmente sugestiva e se, já antes, o espírito colonialista não se encontrava na primeira linha dos portugueses que deslocavam as suas vidas para o ambiente africano, do lado ocidental, agora, por maioria de razão, a irmandade funciona como que um parentesco natural, não havendo quaisquer diferenças no que diz respeito a cores de pele.
Eu, que fiz várias visitas jornalísticas a Angola, de Norte a Sul, e pude testemunhar que o chamado “caldo” era o castigo mais visível que se aplicava aos empregados caseiros negros, quase como se se tratasse de uma penalização de mau comportamento que também servia para meter na ordem algum jovem familiar (e as excepções confirmavam a regra), não posso admitir que a maneira que os novos habitantes nacionais irão utilizar nesta nova vivência se terá de classificar como uma adaptação ao que as circunstâncias impõem. Não, tratar-se-á de uma atitude natural e, para a própria Angola, ser-lhe-á muito mais conveniente que os novos habitantes a engrossar a população local sejam constituídos por portugueses do que por outras nacionalidades, com línguas distintas e sem o coração e o conhecimento que nos é peculiar, por muito desastrada que tenha sido a política do nosso País nessa época colonial, a qual não tinha nada a ver com a realidade a que eu assisti de, no interior do mato imenso de Angola, se instalaram os chamados “fubeiros”, portugueses incultos mas com vontade de trabalhar, que passaram dezenas de anos em contacto directo com os indígenas, fazendo filhos mulatos e sem vontade de regressar a Portugal, para onde só vieram porque os governos, primeiro de Salazar e depois de Marcelo Caetano, este ainda mais culpado porque conhecia o mundo, não souberam negociar por forma a efectuar uma descolonização pacífica e proveitosa para ambos os lados… sem guerra!

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