domingo, 22 de fevereiro de 2009

CARNAVAL


Deparamos, mais uma vez, com um período de Carnaval. E, como a terça-feira gorda se situa exactamente naquele dia que dá enorme jeito para ser constituída a chamada “ponte”, ou seja a ocupação de quatro dias em que o trabalho nacional é suspenso e aproveitado para umas feriazitas ou, no mínimo, um intervalo nos afazeres profissionais de muita gente considerada trabalhadora, claro que os poderes executivos, especialmente numa época em que é preciso construir uma imagem de simpatia na população (aproxima-se a passos largos uma temporada de eleições), são os primeiros a estipular a dispensa de ponto na classe dos funcionários públicos, o que quer dizer que o sector do empresariado privado não quer ficar mal visto e segue as pisadas oficiais.
Ora bem, é verdade que se, por um lado, à falta de empregos para ocupar tanta gente que não consegue trabalho está cada vez mais evidente, o que as paralisações de actividade só facilitam a possibilidade de aumentar a necessidade de mão-de-obra, por outro lado, essas paragens com a obrigação de sustentar os pagamentos dos salários representam um custo que tem de ser suportado numa altura de dificuldades.
De igual modo, a oferta das tais “pontes” dá a possibilidade de, os que se podem aproveitar dos descansos artificiais criados, poderem dar largas ao desejo de efectuar umas saídas dos seus poisos habituais, fazendo gastos que estarão em condições de suportar, ou criando as dívidas que se instalaram nos hábitos dos portugueses, esses, que são ainda muitos, que não pararam ainda para realizar que vivemos num País pobre e que, agora sim, é que vinha a propósito o lema salazarista do “produzir e poupar”.
O que eu pretendo dizer com este comentário é que não concluo em definitivo se se trata de uma medida realista (para além da imagem simpática que o Sócrates pretende criar) inventar “pontes” numa época difícil como esta que atravessamos, ou se, pelo contrário, seria mais aconselhável propagar na população a ideia de que precisamos de produzir o mais possível e que será por essa via que haverá a possibilidade de serem criados mais locais para trabalhar, logo de diminuição do arrepiante desemprego.
Eu sei que, como já tive ocasião de deixar expresso nestes meus blogues, sou contra as datas festivas estabelecidas pelo calendário. Não me adapto à obrigatoriedade de cumprir um Natal, uma Páscoa, um Carnaval, um dia disto ou daquilo, seguindo costumes de alegria – ou mesmo de tristeza – e modos de comportamento que são estabelecidas por acontecimentos passados. Mas isso sou eu, que reconheço não alinhar com a vontade das maiorias, pelo menos nisto.
Mas, não levar em linha de conta as circunstâncias que se atravessam num período estabelecido e contribuir para que as atitudes recomendadas pelo bom senso sejam postas de lado, não se sendo capaz de apelar para a verdade e, esclarecendo as massas dos cidadãos, não ter a coragem de fazer o melhor, é o que ocorre em Portugal a cada momento, e, encolhendo os ombros, continuarmos a dizer aquilo que nos sai sempre pela boca fora: “é isto o País que temos!...”
Ao fim e ao cabo, também não é por aproveitarmos o Carnaval para uma paragem (ou mais uma) que vem mal ao mundo. O grave, isso sim, é que não há forma de se conseguir meter na cabeça desta povo que teremos de ser nós próprios a arregaçar as mangas e, seja qual for a profissão que exerçamos, fazermos sempre o nosso melhor, sejamos simples cidadãos ou sentemo-nos no poder… sobretudo aÍ, onde as caraças são mais assustadoras!

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