sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

MALDITA CRISE



Era inevitável. E eu tenho experiência própria do caso. A descida do número de leitores e/ou de ouvintes e, sobretudo, a baixa dos valores da publicidade constituem as causas fundamentais de um órgão de comunicação não conseguir suportar os gastos que garantam a sua existência. Por vezes, o recurso a notícias e reportagens que atinjam o interesse dos consumidores do produto que se oferece ao público, o que justifica, mesmo que mal, nalgumas ocasiões mais graves, recorrer a excessos de informação para recuperar público que se tenha extraviado – razão dos namoros e desnamoros inventados com figuras públicas -, essa actuação apresenta-se como forma decisiva para manter o jornal, a revista, a rádio e também a estação radiofónica em contacto com o público. Trata-se de um produto como outro qualquer e se não existir quem o adquira ou ajude a pagar as despesas, o seu fim é apenas uma questão de tempo.
Não admira assim tanto que surja agora a notícia, trazida a lume, naturalmente, por outro órgão concorrente – é feio, mas é o que sucede – de que a empresa proprietária dos títulos “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias”, “24 Horas” e a estação de rádio TSF, face às tiragens insuficientes no que diz respeito às publicações e à pouco alta audição da emissora se vê forçada a despedir 122 trabalhadores, dos quais 75 são jornalistas. É, particularmente para mim, uma comunicação que entristece, pois refere-se a deixar sem trabalho profissionais que, tendo na escrita a sua razão de existir, se vê na necessidade de mudar de maneira de ganhar a vida, aumentando o já tão grande número de pessoas do mesmo ramo que anda por aí à espera que a situação económica dos meios de comunicação social se altere, o que, infelizmente, não há indícios de que tal suceda, pelo menos tão cedo.
Afinal, já todos sabemos que esta onda de desemprego que grassa por muitas partes do mundo e que, no caso português, nos deixa verdadeiramente preocupados pela dificuldade em encontrar uma solução, não atinge apenas os jornalistas. Na área da actuação dos humoristas, até os que chegaram a um patamar superlativo na nossa televisão, nota-se claramente que, no mínimo, o receio de se perderem oportunidades que antes andavam na área da fartura, não é já fácil de esconder..
Pelo menos é o que se pode concluir pela afirmação tornada pública, produzida por Herman José, quando disse, com todas as letras, a quem lhe perguntou perante a expectativa de vir a ter na SIC um trabalho: “eu tenho boa boca, em termos televisivos; adoro apresentar concursos, adoro humor, adoro música, adoro culinária, dificilmente me sentirei desconfortável num formato e não nego a possibilidade de alinhar por outras estações. Eu nunca digo nunca”.
Quando isto sai da boca de alguém que, há algum tempo, negociava os seus “cachets” do alto de um pedestal, bem se pode imaginar o que pensam os outros, muitos, que andam por aí a pedir emprego
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