sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

MERECER HONRARIAS



Todos nós, que tivemos algum contacto com dizeres de filósofos gregos, fixámos algumas frases que foram ficando ao longo dos séculos e que, nos dias de hoje, continuam a ter cabimento na nossa vida. Aristóteles, por exemplo, foi fértil em frases sábias, o que demonstra que a necessidade do ser humano reflectir na sua actuação do dia-a-dia não é só de hoje. Será até desde que o Homo Sapiens se empertigou e o seu comportamento ficou bem definido no contacto com os seus parceiros. A mim, não me custa supor que o Homem, desde o seu aparecimento, seja qual for a origem e o modo de ter dado mostras da sua existência, não teve um relacionamento, com os outros e com a própria Natureza, em moldes de poder ser considerado um bem absoluto e merecedor de elogios.
Bem, mas vamos lá a Aristóteles e a um dos seus ditos. Este, por exemplo: “A grandeza não consiste em receber honrarias, mas em merecê-las”.
Na época em que vivemos, a busca de honrarias, a aspiração por receber graduações de qualquer espécie, a ânsia de sermos reconhecidos com manifestações de aplauso, essa busca de nos colocarmos no pedestal é de tal forma doentia que nem nos interessamos em reconhecer se estamos em condições de superioridade que justifique o elogio dos que nos rodeiam.
Há prémios que, em face da classificação que atingiram e da formação de julgadores que se congregam não deixam dúvidas de que são merecidos. Por muito que a nossa opinião seja diferente, temos que aceitar a atribuição. Os Nobel, por exemplo, situam-se na categoria das escolhas sérias e, sobretudo nas classes que estão mais ao dispor da opinião pública generalizada, como é a da literatura, porque se encontra à mão fazer um juízo e, daí, gostar ou não gostar é coisa que cabe a cada um expressar, mas a verdade é que só ficam verdadeiramente revoltados os escritores que não foram galardoados com tal honra.
Voltando a Aristóteles, essa de ter capacidade para ser feito um exame de consciência profundo para analisar se se merece ou não determinada posição de grandeza, aí é que é mais custoso chegar, porque a maioria da gente tem-se a si próprio como acima da média, quando não se julga estar no cimo do poleiro, a ver todos os outros lá por baixo.
E a culpa, muitas vezes, também é de certos atribuidores de honrarias que são despidos de qualificação para esse gesto.
Estou-me a lembrar de algumas comendas que são atribuídas por alguns Presidentes da República e que deixam ficar os portugueses a perguntar-se o motivo de tal exagero.
Mas fico-me por aqui. É maisprudente.

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