segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

MANUEL ALEGRE



Este acontecimento, que está a ser tão divulgado, do deputado socialista Manuel Alegre admitir formar um novo partido de esquerda, deixando, por isso, de fazer parte do PS, leva-me a colocar aqui algumas notas que se relacionam com o poeta, homem que eu, particularmente, estimo e considero.
Ora bem, eu acompanhei bastante do seu exílio na Argélia por via de um outro grande amigo meu, com quem convivi largos anos, desde que foi expulso do PCP, Fernando Piteira Santos, que, por sinal, também fugiu de Portugal, em boa parte com a ajuda que lhe prestei na altura em que estava a ser perseguido pela PIDE e que, por isso, não foi mais uma vez preso e conseguiu partir para o mesmo destino, e esse conhecimento de como andavam as coisas lá por Argel deveu-se à correspondência, via Paris, que mantivemos ao longo de todo esse exílio.
Depois do 25 de Abril, era eu director do semanário independente “o País”, que mantinha uma coluna chamada da Direita e outra denominada da Esquerda, nesta onde escreviam Jaime Gama, Piteira Santos e Manuel Alegre, como prova de que a Democracia tinha que dar sinal de vida também na Imprensa, nessa altura, num encontro que tivemos, por sinal na inauguração da sede do PS no largo do Rato, Alegre, assistindo a esse gesto o próprio Mário Soares, dirigiu-se-me, com aquele vozeirão tão característico, a avisar-me de que, se eu continuasse a aceitar no meu Jornal “aqueles fascistas do Henrique Mendes e Artur Agostinho”, que escreviam na coluna da Direita, ele deixava de prestar colaboração na coluna da Esquerda.
Perante este ultimatum - e eu nunca aceitei imposições - de imediato tive a reacção que me custou muito tomar: “pois muito bem, ficam os colaboradores da Direita!”, foi a minha resposta e assim procedi, muito embora não fosse amigo de nenhum dos que escreviam em tal posição.
Passou-se tempo e, de novo, estive com o Manuel e, a propósito de qualquer coisa, lembrei-lhe a atitude que tinha tomado anos antes. Ficou surpreendido e largou-me: “Eu fiz isso? Que disparate!...” E ficámos por aqui.
Ora, esta possibilidade de vir a surgir um novo partido por inspiração de Alegre, eu, por mim, compreendo a insatisfação com a liderança de Sócrates, porque também a sinto, sobretudo no que se refere à forma como o primeiro-ministro fala para o País. Mas, em consciência, não vejo que outro grupo partidário esteja em condições de ocupar o lugar do Governo. Do PSD, nem é preciso falar. Os restantes não têm eleitorado que chegue para lhes prestar ajuda. Quem pode perder a maioria são os socialistas, mas, ainda que governar nessas condições seja muito difícil, não é de crer que venha a ser mostrado por Sócrates capacidade para ultrapassar a situação complicada em que Portugal se encontra. É que o actual chefe do Governo não sabe ouvir. Julga-se sempre dono da verdade. E não há ser humano que seja detentor da razão em todas as decisões que toma. E é uma pena que tenhamos, nas próximas eleições, que ficar na mesma.
Mas, Manuel Alegre, penso eu, não irá conseguir apoiantes que cheguem para formar um partido de Esquerda que sirva para alguma coisa. Ficar dentro do PS e, no seu seio, fazer todos os esforços para conseguir chamar o líder à realidade, isso sim seria da maior utilidade. E mostrar no exterior que existe Democracia dentro do Partido e não um socratismo que só prejudica o próprio.

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