sábado, 20 de setembro de 2008

VELHINHA LISBOA

Quando um semanário, saído hoje, com uma tiragem que, pelo menos, justifica a aceitação que merece do público, apresenta em letras garrafais a informação de como “Portugal vai fazer para resistir à crise”, o que demonstra a tentativa de criar ilusões aos crentes nas medidas que são indicadas, pois, quanto a mim, nenhuma das medidas apresentadas vai fazer o “milagre” de obrigar a crise mundial a passar em redor do nosso País e não nos atingir minimamente, embora, devo dizê-lo, qualquer das quatro principais actuações previstas, não sejam pior do que não fazer nada, repito, quando um jornal semanal chama a si a responsabilidade de apontar medidas que considera serem remédios para a situação dramática que temos vivido e que dá mostras de se agravar ainda alguma coisa, encho-me eu de coragem e aponto também, embora mais modestamente, a forma de acabar com a horrorosa demonstração de velhice crónica que é o espectáculo dos prédios a cair de velhos que existem em Lisboa.
É verdade, este tema tem sido debatido por mim em diferentes ocasiões. Muito antes até de existir este meu blogue, mas, como a solução que eu defendo não tem custos elevados para o erário público – neste caso para os cofres do município da capital, atrevo-me a expor aqui o que eu faria se me chamasse Helena Roseta e me calhasse a responsabilidade de resolver um problema que, há anos, muitos, pede uma atitude positiva da Câmara. Mas, acima de tudo, requer muita imaginação, força de trabalho, honestidade absoluta para não aproveitar uma ocasião que pode dar ganhos a quem não for completamente isento de abusos, em obviamente, apoio de toda a Edilidade, pois que sozinho, contra más vontades políticas de outros sectores, não é possível levar avante tamanha tarefa.
Passo a explicar em teoria o que se poderia fazer para obter bons resultados em tempo aceitável: Suponhamos uma situação modelo. Uma velha casa, de dois andares, onde ainda vive uma família de gente idosa e bastante pobre. O senhorio, também idoso e desprovido de meios para fazer obras na moradia, recebe uma renda de 100 euros mensais. E isto acontece há anos, com a teimosia do dono da casa que não quer vendê-la por ter amor a uma casita que já era dos seus avós.
Faço este cenário, para mostrar como no meio deste cenário todo entra uma certa compaixão. Nem se podem pôr na rua os inquilinos, nem é possível obrigar o senhorio a fazer obras. E é aqui que, com uma lei ajustada às circunstâncias – que se não existe deveria ser estudada rapidamente para permitir solucionar situações como esta -, deveria a Câmara Municipal substituir-se ao inquilino, continuando a entregar os 100 euros ao senhorio, arranjando residência provisória aos inquilinos que eram obrigados a sair do prédio em ruínas e dando início, de imediato, ao arranjo da casa velha, podendo até aumentar a sua área, em largura e em altura, pouca, para, dentro de um prazo aceitável, receber os inquilinos afastados, num espaço estudado pelos arquitectos que tivesse as condições mínimas de vivência, continuando estes a pagar a renda que tinham ( e enquanto fossem vivos os idosos) e dispondo o Município do resto do espaço do prédio para alugar a gente jovem, por forma a restabelecer a vivência que falta sobretudo no centro de Lisboa e nos bairros típicos, como Alfama, Mouraria e até a Baixa de uma forma geral.
Claro que haveria um período em que o Município teria de despender alguma coisa com as obras, mas é para isso que também servem os Bancos, que fariam um acordo no sentido de dar a sua contribuição para remodelar a cara e a vida da Capital.
Aí está, pois, uma ideia que mantenho há muito tempo quanto a não ficarmos a olhar, de braços cruzados, para o abandono e envelhecimento degradante de grande parte de Lisboa de outras eras. Claro que os empreiteiros de “monstros” de cimento, desses que se encontram em excessiva abundância e que retiram o carácter tão específico da nossa querida Lisboa, Mas, já basta de famílias encravadas, das que não têm possibilidade de pagar aos bancos os juros e as prestações que lhes caíram em cima, sendo agora obrigados a vender e a não encontrar quem lhes queira ficar com esse bem que foi adquirido sem prever o que aconteceria, anos mais tarde, de subida dos custos, dos desempregos e de toda a crise que se alastra por este País fora.
Chamem a esta proposta o que quiserem. Eu, por mim, farto de, ao longo dos anos, ter deixado pelo caminho propostas e soluções para que a nossa linda Lisboa não se continue a transformar numa cidade que só mostras as suas rugas de velhice e não encontra um Município que lhe preste as operações de rejuvenescimento, por mais cansado que esteja, enquanto me sentir com cabeça para opinar, não deixo de o fazer.
Por pouco que valham os meus gritos!...

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