sábado, 13 de setembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!


Não são poucas as vezes que me chega ao pensamento um futuro em que, com a idade que já atingi e a que, provavelmente, venha a alcançar, não possa vir a dispor de mim com a agilidade que me caracterizava na época de pujança física, embora nesta altura a contar ainda com uma cabeça a funcionar em pleno.
Não me assusta morrer. Tenho é pavor de ficar entre o cá e o lá, numa meia vida. Como já ouvi dizer a alguém, o ideal é acordar uma manhã morto. Não passar por esse martírio de ir ficando sem vida aos poucos. Lentamente. Se tem de ser, pois que seja, mas depressa.
Nada pior, penso eu, do que estar inutilizado e ter a memória em pleno. De só poder lembrar-se do que se fez, emendando o que saiu mal e recriminando-se por aquilo que poderia ter seguido outro percurso. Deve ser horrível tal situação. As imagens televisivas que já foram mostradas de enfermos completamente inutilizados por incapacidade absoluta de poderem mover qualquer parte do corpo, mas conservando a cabeça em funcionamento, rogando encarecidamente para alguém, especialmente um médico, pôr termo a tamanho sofrimento, a visão de tais desgraças revolta-me, como se, neste mundo de guerras, de mortes em catadupa provocadas por exterminadores sanguinários, como também de abandono à morte de multidões de famintos por esse planeta fora, ter a caridade de praticar a eutanásia com um infeliz que pede aos vivos que façam com que a sua pseudo vida termine, considerar os que têm compaixão de tamanha amargura devem ser julgados como criminosos é uma atitude de um grande número de seres humanos que obedece a regras judiciais e/ou religiosas que, no meu conceito, não merecem sequer classificação de nenhuma ordem.
Pode-se matar às centenas de uma só vez, e isso está a acontecer praticamente todos os dias por esse mundo fora, mas não é permitido livrar do pesadelo do sofrimento um só pobre ser que clama por compaixão porque não aguenta mais manter-se naquela inutilidade de existência.
Penso neste mundo hipócrita e revolto-me. E assusto-me. E indigno-me. Oxalá o meu adeus não seja o de ter de implorar que me apliquem uma injecção letal ou que desliguem a máquina.
A caridade humana na maioria dos países fica-se por não ser autorizado praticar a eutanásia. Matar só um, mesmo que se encontre no momento decisivo da sua vida e a seu pedido, é crime. Fazer explodir petardos no meio de dezenas de pessoas indefesas, isso já é um acto de heroicidade. É tudo uma questão de ponto de vista. Religioso ou não.
A vida de cada um pertence exclusivamente a esse um. Não tem de ser pedida licença a ninguém para morrer. Já basta não ter sido chamado para autorizar o nascimento. Claro, isso não é possível. Então…



1 comentário:

Anónimo disse...

O que achou ontem da participação de Herman José na Gala de Camilo?Aquela gala merecia um post!