segunda-feira, 25 de agosto de 2008

CHIADO


A data de 25 de Agosto marcou os vinte anos que nos separam do pavoroso incêndio ocorrido no Chiado e que deixou aquela zona num estado deplorável, de tal forma que, quem conheceu bem o velho Chiado, como aconteceu comigo que ali passei muitos anos da minha vida, desde o ter estudado no interior do extinto Café Chiado, ocupado depois por uma companhia de seguros (!), até ter privado ali com velhos escritores, como Aquilino Ribeiro e com muitos políticos do contra a situação, na Brasileira, repito, quem viveu em pleno esse Chiado que já não existe, não pode deixar de sentir umas saudades infindáveis de tal período… até porque os anos contam e nessa altura éramos todos mais novos.
Na verdade, não posso esconder a minha opinião de que a transformação que ocorreu naquele local, em parte porque, lastimo ter de o dizer, a escolha de um arquitecto do Porto, por mais competente que ele seja, para proceder à remodelação depois do incêndio, não permitiu que ali existisse a mão de alguém que se identificasse plenamente com o ambiente que se vivia antes, essa alteração do que havia não foi feita por forma a não se perder completamente o cheiro e o sabor de algo que, não sendo fácil de reavivar, se poderia, pelo menos, aproximar do que era e do que foi.
As velhas casas de chá, onde iam diariamente figuras conhecidas, algumas até ridículas, como era o caso da mulher e filhas do então Presidente da República, Américo Tomás, as compras de fitas de nastro ou coisas parecidas nas lojas que ali existiam, como eram os casos do Último Figurino, Paris em Lisboa, David & David, Eduardo Martins, o próprio Grandella e os Armazens do Chiado, não esquecendo o precioso Martins & Costa e outras lojas que faziam parte da nossa própria existênciaas, as visitas à Bénard, à Marques e, na rua Nova do Almada, â Ferrari, bem como todo o conjunto de casas comerciais que ali se mantinham há muitos anos, era tudo isso que fazia parte de um ambiente completo que fazia as delícias dos habituais das idas ao Chiado por tudo e por nada.
É evidente que o arquitecto não podia recuperar esses estabelecimentos que arderam e os seus proprietários não voltaram aos sítios, mas teria sido conveniente que, até mesmo a Câmara Municipal de Lisboa, tivesse feito todos os possíveis para aproximar o depois do antes.
Seja como for, o Chiado de hoje não tem nada a ver com o que era e até os passeios diários de muita gente que utilizava o eléctrico que fazia e faz ainda o trajecto vindo da Estrela, essa rotina perdeu-se e hoje não acontece como quando se viam diariamente passar caras conhecidas e até a Livraria Bertrand e a Sá da Costa constituíam pontos de encontros de gente da área intelectual que ali faziam ponto de reunião.
Outros como eu, da minha época, quando se deslocam ao Chiado, agora só por necessidade, sentem, como eu sinto, uma nostalgia que não se pode evitar. E as novas gerações, essas não serão capazes nem têm necessidade de o fazer, de reviver uma época que, tendo também deixado pesadas marcas negativas, sobretudo pela proximidade da rua António Maria Cardoso de tão má memória, mesmo assim não se apaga facilmente da memória dos antigos.
Paz à sua alma!

Sem comentários: