quarta-feira, 23 de julho de 2008

A POESIA



O que é isso afinal da poesia
das palavras emparedadas
por vezes rimadas
contadinhas as sílabas
em ritmos marcados
doces ao ouvido ?
Quem sabe que o diga
que deixe bem claro
aquilo que eu, por mim, não sei definir.
Algo que emerge
que sai quando quer
quando lhe apetece
e só dá sinal de si cá para fora
quando o vento corre de feição.
Nada há a fazer
é a inspiração a tal que existe
mas não quer antes ser vista,
só pode sentir-se
após exibir-se
na escrita, na tela, na pauta,
onde quer que seja,
onde quer que esteja
sujeita ao apreço,
ao desprezo,
à indiferença
de quem não a tem,
essa, a inspiração.

E quando ela surge
no meio da noite
despertando os justos
do sono profundo ?
Saltam as palavras,
as ideias,
os temas,
tudo em cascata
de frases poéticas;
mas não há papel no escuro da noite
depois se verá à luz do dia.
Mas a manhã chega
só resta o nada da escuridão.
Foi-se a inspiração !

O que é então a poesia ?
Será a doçura,
a ternura,
a contemplação,
a que não se esgota,
que muda de mão
e nunca é igual ?
É boa, é má, suporta-se enfim
mas é o produto
do esforço,
da busca,
da dura insistência,
do apelo às entranhas
para que a revolta,
o amor,
a fraternidade
passe para a obra
mude do etéreo
para o material,
o palpável,
o apreciável,
até o descartável.
É a insatisfação,
a consciência do seu valor,
a auto-crítica
que faz com que só haja um caminho,
um destino,
um fim
para aquilo que a inspiração
afinal não era destinada:
o cesto dos papéis,
o caixote do lixo,
o monte dos imprestáveis

Por vezes, porém, algo escapa
derrapa entre os dedos
salva-se do desespero
do desgosto de não ser capaz.
Será isso ainda poesia ?
Tem isto que aqui fica algo de poético ?
Se não, passou as malhas da auto-censura
E fugiu para as páginas de um livro,
deste livro.
Não respondeu à questão.
Não diz o que é poesia.
Não acrescenta nenhuma sentença
a qualquer definição já dada,
fica-se por aqui.
Mas se não é poesia
Representará pelo menos o esforço
de querer sê-lo.
Já não é pouco !

Sem comentários: