segunda-feira, 28 de julho de 2008

CONTRADIÇÕES


Não se trata de uma novidade. Já se sabe que onde o Homem põe a mão, logo se deparam as situações extremas, o mais e o menos, o muito e o pouco, o grande e o pequeno, o excelente e o péssimo. É da condição humana colocar em confronto posições que se situam em margens opostas e, pior do que isso ainda, é visualizarem-se essas diferenças e, na maior parte das vezes, nada se fazer para se encontrar uma forma de suavizar os que se encontram em piores condições.
Refiro-me, está bem de ver, aos muito ricos e aos excessivamente miseráveis. Àqueles que lhe sobra tudo e aos que só conseguem muito pouco. E isto, obviamente, sem entrar em linha de conta com as características, as capacidades, as habilidade, os esforços que, aos mais favorecidos tenham servido de trampolim para atingir as posições superiores. E em que o elemento sorte também tem a sua parte de participação.
Pois por cá não se verifica qualquer excepção àquilo que é regra no mundo em que vivemos. E se não vale a pena fazer referência às excentricidades dos tais que, sobretudo lá pelos Algarves, gozam dos prazeres de umas férias a dar nas vistas nas páginas das publicações dos que tudo fazem para se mostrar, o que sim é importante que se registe são as contrapartidas das dificuldades daqueles que, sendo a maioria dos portugueses, atravessam um período que, apesar dos desejos dos optimistas, não conseguem ver passar este período negro.
E aí vão dois exemplos de casos que, na maior parte das vezes, passam despercebidos do público leitor de jornais: segundo um relatório de uma Associação que acompanha este sector, os vários fundos que servem para os pequenos investidores depositarem os seus aforros com juros modestos, desceram cerca de 22 milhões de euros nestes últimos seis meses, o que quer dizer que os respectivos valores tiveram de ir fazer face a necessidades inadiáveis. Por outro lado, as devoluções de casas aos bancos, por dificuldades em liquidar as dívidas que as mesmas representam, estão a atingir um número que já está a criar problemas no negócio das habitações. Só por Lisboa fora se vêm inúmeros cartazes nos prédios a anunciar que se encontram disponíveis, o que também poderia alertar para a conveniência de se poder voltar ao período dos alugueres, o que solucionava igualmente a questão da desertificação da capital de casais que fogem para os arredores, com todos os inconvenientes conhecidos e que nem vale a pena descrevê-los neste texto.
Agora, o que constitui uma vergonhosa provocação à fome na Terra é a notícia largamente divulgada de que, no jantar realizado no Japão e em que se reuniram os líderes de oito economias mais industrializadas do mundo, os chefes de Estado e de Governo deliciaram-se com 24 pratos num festim que incluía as mais requintadas ementas e os mais raros vinhos, onde não podia faltar o caviar, as trufas e todas as esquisitas especiarias vindas das mais diversas origens. O custo total deste repasto oferecido na Cimeira do G8 não foi escondido. Atingiu os 358 milhões de euros, o que seria bastante para adquirir 100 milhões de mosquiteiros para ajudar a impedir a difusão da malária em África ou para tratar os milhares de doentes com sida que existem por toda a parte.
Por aqui se vê a massa de que é feita o Homem. Aqueles mesmos que se reúnem para tentar encontrar soluções para os problemas do mundo, são esses que não sofrem de indigestão quando gastam em jantaradas verbas que tanta falta fazem aos que morrem de fome.
Só se espera que, por cá, haja a consciência dos gastos excessivos, pensando, em primeiro lugar, nas dificuldades por que passam os que não conseguem arranjar emprego… e, claro, querem trabalhar.

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