quarta-feira, 11 de junho de 2008

O FUTEBOL




Vinte e dois homens num campo

saltando qual pirilampo

de relva verde, tratada

aparada

com um outro que usa apito

que provoca muito grito

de vez em quando silvando

para mostrar quem tem o mando

com dois de fora a espiar

e nenhum é popular

com bandeirinhas na mão

prestando grande atenção

assim lá vão os minutos

que não são absolutos

lá se passa o tempo afinal

noventa no seu total

com pontapés numa bola

obedece a quem foi pô-la

que gira de um para outro lado

por sobre o verde relvado

do terreno

sem empeno

que tem risco branco ao meio

e não se pode chamar de feio


De calções correm e suam

e se extenuam

aqueles que usam os pés

que servem para pontapés

pois os braços e qualquer mão

esses podem custar expulsão

somente os homens das balizas

têm como divisas

deixá-las invioláveis

impenetráveis

todos equipados a preceito

aprumados a seu jeito

quando entram no relvado

esteja seco ou molhado

cada onze de sua cor

calmos ou com pavor

fazem por meter a bola

que em tempos era de sola

na baliza do adversário

para que aumente o salário


Golo! Gritam os adeptos

que não recusam afectos

cada vez que lá enfiam

e assim se agraciam

pois o tal esférico

que não tem nada de pindérico

quando conseguem fazê-lo

podem servir de modelo

no cubículo que é alheio

se acertam em cheio

dão largas à fantasia

não escondem a alegria

rebolando-se no relvado

com certo ar desvairado

beijando a camisola

mostrando ser gabarola

correndo desenfreados

coitados


O pior vem porém

porque nem tudo corre bem

quando o árbitro apita

e marca falta desdita

injustiça! Malandrice!

mas que grande pulhice

não aconteceu nada disso

já lá faltava o enguiço

foi tudo bem ao contrário

e aquele grande ordinário

do juiz, o desgraçado,

vê-se que foi comprado,

ouve o que não se diz fora

mas mesmo assim não cora

pois é esse o seu ofício

e há que fazer sacrifício

para bem do futebol

que dá bastante carcanhol


Por vezes não só das bancadas

bem lotadas

ressaltam os impropérios

sem critérios

os jogadores mal formados

enganados

pelo contra-tempo raivosos

nervosos

mimam sem se conter

por vezes até com prazer

e fazem ao árbitro gestos feios

sem ter cuidados com os meios

e o pior é quando se excedem

e não medem

o tamanho dos dichotes

e que até saem a potes

e entram noutros confrontos

ainda muito mais tontos

que deixam marcas visíveis

horríveis

no corpo do julgador

que horror!

bem pagam por isso os tolos

que nem lhes valem os golos


Ganham muito os jogadores

os senhores?

seguramente que sim

pelo menos alguns, enfim

p’ra quem não gastou pestanas

bem podem cantar hossanas

deviam ficar calados

os famosos, deslumbrados

porque para simples mortais

têm benesses demais

por muito que lá no fundo

se julguem o centro do mundo



Será que tais honrarias

de todos os dias

são merecidas?

bem lambidas

neste mundo de injustiças

e de cobiças

de tantas desigualdades

maldades?

ninguém nada estranha

neste mundo de manha

é tudo tão natural

tão banal

que até os pobres de Cristo

já nem fazem registo

de tais populares figuras

que exibem grandes farturas

e vivem como nababos

fazendo inveja a diabos

olhando p’ra baixo o mundo

não sabendo que no fundo

se abrem a boca sai asneira

o que se não causa poeira

pelo menos incomoda

por muito que faça moda



O reverso da medalha

que geralmente não falha

é quando perdem sem jeito

que os faz baixar o peito

e de melhores do mundo

descem bem até ao fundo

passam a ser os piores

e desmerecem favores



Se algum bom senso tivessem

e as honrarias merecessem

quando bem lá no alto estão

pediriam perdão

demonstravam só modéstia

nem que fosse só uma réstia

ao espelho se olhavam

e choravam



Afinal neste País

há muita gente que o diz

os três efes estão em cima

e recebem toda a estima

dos portugueses de gema

como delícia extrema:

Fátima, fado e futebol

e não põe mais no rol



De igual forma os tais “heróis”

terão tempo para depois

mesmo tarde constatar

que foi curto o tempo para jogar

porque a idade não perdoa

por muito que isso doa

e se no auge houve fartum

não foram guardando algum



Passada a época boa

quando têm baixa a proa

contam os tostões na carteira

e choram a grande asneira

de quando jorrava a torneira

não se terem precavido

deixando cair no olvido

conselhos de quem sabia

e lhes mostrava a fantasia

da vida fácil de então

reinação.

Agora é tarde para ira

por tudo que foi mentira



Mas vistas melhor as coisas

mirando gentes vaidosas

que por aí se pavoneiam

e bem estar alardeiam

não será que também esses

descuidem os seus interesses

e fiquem iguais aos “putos”

que aí andaram aos chutos?






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